SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um novo tipo de coronavírus que infecta morcegos, recém-descoberto por cientistas chineses, tem o risco de ser transmitido a humanos.
Segundo estudo publicado pela
revista Cell e artigo publicado na Nature, o vírus usa o "mesmo receptor
de entrada" que o Sars-CoV-2, causador da Covid. Há, portanto, um risco de
que possa desencadear contágio em humanos, conforme os autores.
Trata-se do HKU5-CoV-2, que pode
entrar nas células usando uma proteína chamada receptor ACE-2, encontrada nas
células de muitas aves e mamíferos, incluindo humanos. Virologistas ouvidos
pela Folha de S.Paulo descartam, no entanto, um risco de pandemia nesse
primeiro momento.
Assim como o Sars-CoV-2, o
HKU5-CoV-2 contém características que o ajudam a entrar nas células, e foi
capaz de infectar células de órgãos humanos cultivadas em laboratório -no
intestino e vias aéreas-, apesar de não com tanta facilidade quanto o
Sars-CoV-2.
Segundo Esper Kallás, médico
infectologista e professor titular da Faculdade de Medicina da USP
(Universidade de São Paulo), o estudo descreve o isolamento de mais um
coronavírus. A diferença é que ele não usa o receptor que esse tipo de vírus
costuma utilizar para entrar na célula, chamado DPP4, mas usa um alternativo, o
mesmo do Sars-CoV-2.
"A estrutura molecular da
superfície se assemelha muito ao outro coronavírus que causa resfriado comum, o
NL63", afirma, acrescentando que o resultado é motivo para estudos:
"Há incontáveis agentes que podem causar pandemias".
Em geral, os morcegos podem ter
uma infinidade de coronavírus, que, em casos raros, podem chegar às pessoas,
muitas vezes por meio de outro animal. Um exemplo de vírus que possivelmente se
originaram em morcegos incluem o Sars-CoV-2, da Covid, e o vírus que causa a
síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers).
O professor da Faculdade de
Medicina de Rio Preto Maurício Nogueira destaca que ainda não há casos humanos,
o que reduz esse vírus a uma preocupação menor que o da gripe aviária, por
exemplo, que já foi detectado em humanos.
Um risco de pandemia, segundo o
infectologista Alexandre Naime Barbosa, chefe de Departamento de Infectologia
da Unesp, coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI),
dependeria da adaptabilidade do HKU5-CoV-2, se ele conseguirá se adaptar ainda
mais para os receptores celulares dos seres humanos e se tornar patogênico.
Uma linhagem anterior do HKU5 foi sequenciada pela primeira vez pelo autor principal do estudo, Jing Chen, do Instituto de Virologia de Wuhan na China, e sua equipe em 2014, de material genético coletado de morcegos do gênero Pipistrellus.
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