Por Nilo Canuto
Hoje, fiz a leitura de um conto elaborado por colegas professores, do interior do estado. “Olho em Perfeito Silêncio Para as Estrelas” conta a história fictícia, porém muito verossímil de um cotidiano encantando, vivido por uma família camponesa nordestina. Essa ambiguidade que só poderia ser explicada por Manoel de Barros quando disse em um trecho de sua poética: “tudo que não invento é falso” me atravessa como leitor e vivente de experiências similares.
O conto iniciado por Wescley Gama recebeu, colaborativamente, 20 diferentes finais escritos pelos professores por meio de uma formação continuada de professores. E assim como a uma das colaboradoras do livro, os textos também me afetaram de uma maneira singular.
No enredo, Dona Rita acometida de um mau presságio pede a seu filho Ivanaldo para procurar seu pai João que havia saído para o roçado. O forte sentimento da mãe produziu uma atmosfera pitoresca do sertão e dos personagens nordestinos digna das tragédias gregas.
As 20 versões que deram continuidade a história dos personagens se misturaram com os autores, espaços e leitores, seguindo a exitosa proposta da formação mencionada. “Ler e escrever” foi o amálgama, a mistura, a liga perfeita para a construção das identidades, não apenas dos personagens, como também de seus criadores.
Os personagens e seus autores comungam uma história, de tal modo que o narrado passa a ser sobreposto pelo que não está dito no enredo. Os caminhos traçados por quem escreve extrapolam os limites de toda a história e acabam por revelar também sobre suas próprias existências através de suas escolhas. Doutro modo jamais atingiriam a riqueza de detalhes que se evidenciam, por mais curta que tenha sido determinadas versões.
Gostaria de evocar alguns argumentos que considero principais para o reforço de meus argumentos. O primeiro se traduz no amor mimético transferidos à figura paterna e nordestina de João. O segundo, diz respeito a empatia e o cuidado com mãe nordestina Rita e com o esperançoso filho Ivanaldo, que os autores acabam assumindo numa postura de apego e proteção perpassada em casa desfecho. Algo tão expressivo que das 20 versões apenas em uma delas o personagem João morre (pg. 33). O terceiro argumento tem a ver com o continuísmo da história que apesar do preâmbulo anunciar um mal presságio, em todas as versões é possível perceber a inversão dessa atmosfera negativa por uma positiva, percebida pelos cuidados com os personagens, nos elogios aos elementos da natureza, na presença de objetos simbólicos como ferramentas e outros signos da cultura campesina nordestina, mesmo na versão em que João tem um fim trágico. O quarto segue no sentido de todo o esforço gerado pelo autores em fazer com que os personagens não sofram.
O livro é uma obra para se ler numa tarde de domingo, olhando pela janela, num ambiente bastante calmo e reflexivo. É um trabalho que nos exige pensar sobre identidade, espaço e afetos.
Por fim “Olho em Perfeito Silêncio Para as Estrelas” é um convite a “olhar inquieto para o infinito Interior”, das pessoas e vida, do nordeste e dos espaços onde habitam os afetos.
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