irmã Didita, cujas informações me fizeram o meu vínculo com esta terra serem mais fortalecidos |
Na manhã desta terça-feira, 25 de junho , ao visitar a irmã Didita em seu ateliê RR Bolsas, localizado na Avenida Silvio Bezerra de Melo, fui surpreendido por um relato que me transportou ao passado e revelou detalhes desconhecidos sobre a história da minha própria família. Enquanto Didita ajustava uma bolsa que levei, nossa conversa trouxe à tona memórias e fatos fascinantes sobre a emblemática bodega de Bastião Ribeiro e a conexão com meus avós maternos, José Lino e Maria Avelino.
Didita, filha de Bastião Ribeiro, uma figura popular e carismática de Lagoa Nova, começou a compartilhar histórias de seu pai. Ela revelou que a sede da famosa bodega de Bastião Ribeiro, antes de ser o próspero estabelecimento comercial, foi a primeira residência de meus avós maternos quando chegaram a Lagoa Nova no início dos anos 60, vindos do Ingá, zona rural do município de São Tomé. Segundo Didita, a casa foi comprada de Sr. Zé Pedro de Zulmira e, posteriormente, vendida a Bastião Ribeiro, mas não de forma direta.
Meu avô, homem conhecido por seu entusiasmo e personalidade firme, ficou "intrigado" com Bastião Ribeiro e, por isso, recusava-se a vender a casa diretamente para ele. Determinado, Bastião pediu a ajuda de um amigo para intermediar a compra. Assim, ele conseguiu adquirir a residência, que deu a sua mãe, Luiza Martins, para que ela, já idosa, pudesse morar mais perto dele. Após o falecimento de Luiza, Bastião transferiu sua bodega, que inicialmente funcionava no bairro Jesus Menino, para o novo local, onde prosperou até 2021.
Didita também contou que, segundo seus avós, o local onde hoje existe a bodega e a residência de Bastião Ribeiro era, antigamente, onde aconteciam as primeiras feiras livres após as missas na baraúna. A bodega, além de ser um ponto comercial, tornou-se um ponto de encontro de amigos para boas conversas.
A famosa Bodega de Bastião Ribeiro era mais do que um simples comércio; era um verdadeiro centro comunitário. Os clientes compravam seus víveres como açúcar em pedra, quebrado na pancada do martelo. Para os apreciadores de aguardente, Bastião tirava a bebida diretamente do barril de madeira através de uma mangueira para os vasilhames trazidos pelos clientes, e não raras vezes, ele próprio degustava a bebida sem querer. Fumo de rolo, jabá em saco, farinha e feijão medidos em cuias de madeira, arroz pesado e enrolado em papel de embrulho, café torrado e moído na hora, e rapadura no garajau eram alguns dos produtos que faziam parte do cotidiano da bodega.
Peixes como curimatã, piau, traíra e tucunaré, vindos de Cruzeta e embalados em esteiras de palha de carnaúba, também eram parte essencial da dieta local e frequentemente encontrado na bodega.
Didita revelou ainda que meu avô, José Lino, trabalhava como marchante e na agricultura, duas atividades que desempenhava para sustentar a família formada pelos filhos Josefa (minha mãe), Eleonora, Aurino (filho adotivo) e seus dois netos, Chico Grande e Chico Pequeno. Seu trabalho árduo e dedicação eram fundamentais para manter a família unida e prover as necessidades diárias.
Essa visita ao ateliê de Didita não só me proporcionou a solução para minha bolsa, mas também uma viagem ao passado e um novo entendimento das minhas raízes em Lagoa Nova. A história de Bastião Ribeiro e sua bodega é um exemplo de como os comércios locais podem se entrelaçar profundamente com as histórias familiares e a cultura de uma comunidade.
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