quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Após vandalismo em Brasília, notícias falsas voltam a tumultuar as redes sociais

Fake news sobre morte de idosos e participação de infiltrados nos atos na capital federal se espalham desde domingo no País

Após os atos de vandalismo nas sedes dos Três Poderes, em Brasília, ocorridos no domingo, a internet foi novamente inundada por uma série de notícias falsas. Entre as fakes news estão acusações de mortes de idosos e de infiltrados de partidos da esquerda nos ataques.

Na segunda-feira, a foto de uma idosa começou a circular nas redes sociais de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com uma mensagem afirmando que a senhora havia morrido na Academia Nacional de Polícia, local onde estão os detidos por suspeita de atentados golpistas em Brasília.

Entretanto, foi comprovado que a foto foi baixada de um banco de imagens da internet e a Polícia Federal (PF) também desmentiu o falecimento da idosa.

Na terça-feira, outra imagem começou a circular nas redes sociais, afirmando ter aumentado o número de mortes no “campo de concentração da Polícia Federal”. Novamente, o post foi desmentido pela PF, que informou não haver registro de óbitos entre os detidos na Academia Nacional de Polícia.

A PF também informou que, “por questões humanitárias, foram liberados 599 detidos, em geral idosos, pessoas com problemas de saúde, em situação de rua e mães acompanhadas de crianças” na tarde de terça-feira.

Ainda na nota, a PF também desmentiu o boato de que crianças estavam sem água e comida no local. De acordo com a Polícia Federal, “todos estão recebendo alimentação regular, hidratação e atendimento médico, quando necessário”.
DISSEMINAÇÃO

As notícias falsas não se limitam apenas à apreensão dos suspeitos pelos atentados em Brasília, mas se estendem para quem participou das ações de vandalismo.

O empreendedor e ativista social Raul Santiago foi alvo de uma mensagem falsa enviada nas redes sociais, com fotos dele associada à mensagem de que ele estava “fingindo ser patriota” e que “quebrou tudo” a mando de alguém.

O empresário comprovou que todas as imagens usadas foram publicadas antes de domingo, em seu Instagram, e nenhuma delas foi tirada em Brasília.

O sobrinho do deputado estadual Zeca do PT, Marcelo Heitor, também foi alvo das notícias falsas. No WhatsApp começou a circular nesta semana um vídeo de um homem de chapéu e óculos escuros incentivando a invasão dos vândalos aos prédios dos Três Poderes.

Na legenda, a afirmação: “Você conhece esse aí, não? O sobrinho do Zeca do PT vai ficar conhecido agora!! [...] São infiltrados dos petistas que fizeram o quebra-quebra, tá aí!”.

Marcelo publicou um vídeo em seu perfil do Twitter negando ser a pessoa das imagens e informou que estava em Bonito (MS) no domingo, com familiares. Ele acrescentou: “Só me envolvo em manifestações que defendem a liberdade, que defendem a democracia”.

Heitor Miranda, filho do ex-prefeito de Porto Murtinho (MS), também foi acusado de ser o homem do vídeo, entretanto, o jovem faleceu em novembro de 2022.
O DISCURSO

Boa parte dessas notícias falsas é publicada em aplicativos de mensagens, como WhatsApp e Telegram, e se espalha rapidamente por meio de grupos de pessoas que têm o mesmo interesse.

A psicóloga Pietra Garcia comenta que, atualmente, as pessoas têm uma grande necessidade de estarem sempre informadas, e essa carência gera uma ansiedade, um medo de perder algo, de não saber de um fato.

Os grupos, nesse cenário, têm uma grande importância, principalmente porque são um meio que as pessoas encontram de compartilhar essas informações e se manter sempre informadas. Sendo assim, fortalece o discurso o que está na manchete, o que está na mensagem, mesmo que seja falso.

“No mundo em que a gente vive hoje em dia, é muito difícil as pessoas conseguirem abstrair. Nem sempre o que elas vão ouvir ou a notícia que vai chegar vai ser algo que ela goste, vai ser algo que agrade aos ouvidos dela. Acredito que as notícias falsas têm muito a ver com isso, reforçar aquilo que você queria que fosse verdade”, comenta Pietra Garcia.

Para a psicóloga, combater fake news com ciência nem sempre funciona, porque as pessoas preferem acreditar na mentira “do que se esforçar para abrir mão daquilo que gostam de ouvir”.
PAPEL DAS REDES SOCIAIS

As redes sociais, como um todo, fortalecem a criação desses grupos responsáveis por disseminar as notícias falsas.

Denis Ajala é analista de marketing e relata que, com o crescimento da propagação de fake news, fenômeno que foi notado principalmente nas eleições de 2018, algumas redes criaram políticas de publicações em parceria com verificadores de notícias, para tentar conter o avanço das inverdades.

No entanto, ainda assim, existem plataformas como Kwai e TikTok que não têm esses recursos.

Ajala afirma que a melhor forma de combater as notícias falsas é sempre verificar a veracidade por meio desses parceiros do grupo Meta (Facebook, Instagram e WhatsApp) e do Twitter e por meio de projetos como o Comprova, que é uma agência de checagem de notícias que conta com a parceria de jornais de todo o País, inclusive o Correio do Estado.

Durante as eleições de 2022, além da ação com o Comprova, o Correio do Estado também criou o primeiro núcleo de verificação de Mato Grosso do Sul, o Correio Verifica, cujo objetivo era informar a população e desmentir informações enganosas que pudessem prejudicar o processo eleitoral no Estado.

Correio do Estado

Nenhum comentário :

Postar um comentário