sábado, 19 de novembro de 2022

Vereador culpa motoristas do transporte escolar, por alunos da zona rural não terem recebido kits do Enem

Falha em distribuição de kits para os alunos que iam prestar exame para o Exame Nacional do Ensino Médio(ENEM), no último domingo dia 12 de novembro, repercutiu nas redes sociais, sendo motivo de críticas pelo constrangimento sofrido pelos alunos que residem na zona rural do município. A distribuição foi realizada pela prefeitura de Lagoa Nova, a través da secretaria municipal de educação. Segundo o que me informaram apenas alunos da zona urbana receberam o material. Na sessão da câmara de vereadores realizada na quinta-feira, dia 17, o caso foi citado pelo vereador Wallace, onda na oportunidade o parlamentar criticou a atitude e  chegou a ler dois textos escritos por duas grandes educadoras, que publicaram em seu post em rede social relatando o fato. Já o vereador Paulo Eduardo, ferrenho defensor da atual gestão, alegou que a culpa pelo ocorrido foram os motoristas que realizavam o transporte de alunos.

Texto escrito pela professora Marcia

A educação do e no Campo sempre foi negligenciada em nossa cidade. Acredito que não por maldade, e sim por falta de conhecimento e, como extensão, falta de respeito. A isso podemos chamar desvalorização institucionalizada, um processo estrutural de nossa cidade que de forma muito danosa causa prejuízos a um grupo social, no caso as comunidades campesinas.
Se fôssemos fazer um breve levantamento histórico sobre como nossas escolas do campo foram e são tratadas, poderíamos entender esse processo de desvalorização estrutural, que por estar presente na própria estrutura social não parece ser um grande mal e passa como algo normal, porém não é.
Cabe à instituição que cuida das demandas da educação um novo olhar, buscar formas de minimizar, ou melhor, acabar com essa distinção que leva nossas crianças e jovens à exclusão.
É sabido por todos que a atual gestão municipal fez mudanças físicas nos espaços escolares, muito necessárias, assim como investiu em uma Coordenação Municipal de Educação do Campo e Quilombola, cargo hoje vago. Ações pertinentes, mas que não mudam esse preconceito estrutural com o campo se não houver ações humanizadas.
O que me causa tristeza é saber que muitas vezes quem quer fazer não tem espaço para isso e quem pode fazer se cala por ignorância ou por comodismo.
A bancada na Câmara de vereadores tem em sua quase totalidade homens e mulheres do campo, que vivem ou viveram nessa realidade. O campo tem maioria de nossos professores, de nossas escolas, de nossos alunos. É o campo que marca Lagoa Nova no cenário econômico. Então, o que falta para que, assim como o vereador Wallace, os demais levantarem essa bandeira?
Ações de anulação como não entregar esses kits podem parecer besteira, mas são exatamente nessas pequenas ausências, que muitas vezes não são por querer, que se sustenta a exclusão e o preconceito estrutural que passa despercebido mas que nega direitos quase sempre aos mais necessitados.”
“[...] a primeira identidade social da pessoa lhe é conferida pelos demais. Aprendemos a ser quem nos dizem que somos.” (Laing, 1986). Assim, precisamos, todos nós, professores, vereadores, instituições, dizer de fato o valor que nosso campo tem.

Texto escrito pela professora Maria Invanilda

O texto de Márcia Araújo é uma fala de quem conhece a educação do campo. Eu como ex-diretora de escolas de campo fico realmente indignada com a diferença existente, se somos uma cidade só, se temos uma secretaria de educação para as 16 escolas porque existir essa diferença? Como bem disse o vereador Lourival Adão já foi bem pior, pegamos escolas sucateadas, com cupins, ratos, instalações de energia em péssimas condições, e como falou Márcia no seu texto acima, a atual gestão construiu a escola São Luiz, reformou outras escolas dando condições estruturais, porém falta valorizar a clientela campesina como eles realmente merecem, tentamos durante quase 5 anos levar e elevar tanto alunos como professores do campo e conseguimos tiramos escolas e professores do anonimato e comodismo que antes existia, não podemos dar continuidade ao nosso trabalho, não por falta de vontade nem de coragem, pois quem me conhece e conhece Márcia, sabe que jamais iriamos desistir de um trabalho que estava dando certo. Ouvindo outro vereador responsabilizando o motorista pelo mesmo não ter vindo com os alunos lá da zona rural receber um kit na feira coberta só piorou a situação, pois quem faz ou já fez prova de Enem sabe como é cansativo passar uma tarde sentado, usando as energias fazendo uma prova. Será que o pessoal da secretaria de educação não podia ir até a rotatória entregar esses kits? Pouparia os estudantes de viajarem alguns quilômetros a mais.

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