O Rio Grande do Norte perdeu
mais de 39 mil doses de vacinas da Pfizer porque os imunizantes passaram do
prazo de 31 dias após descongelamento para serem utilizados, segundo confirmou
a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap).
Somente a capital do estado, Natal,
foi responsável por mais de 55% das doses que se perderam. Ao todo, 21.900
vacinas não foram aplicadas dentro do prazo, na cidade, e não podem mais ser
utilizadas.
Mossoró, no Oeste potiguar,
registrou a segunda maior quantidade de perdas, passando das cinco mil vacinas.
No dia 28 de dezembro, a secretaria de Saúde do município já havia
confirmado a perda superior a 4 mil vacinas.
Os dados da Sesap foram
levantados no dia 30 de dezembro, com base nas informações repassadas por
151 municípios potiguares, que representam 90,4% das cidades do estado. Ao
todo, 39.515 doses se perderam. Desse total, apenas 205 ficaram inutilizáveis
por outro motivo: um problema técnico na câmara fria em Jardim de Piranhas.
Segundo o estado, as doses serão
recolhidas e desprezadas.
No documento assinado pela
responsável técnica do Programa Estadual de Imunização, Katiúcia Carvalho,
a Sesap afirma que, após a entrega dos imunizantes aos municípios, a
responsabilidade pelo uso dentro do prazo fica a cargo das prefeituras.
"Reiteramos que as
estratégia de vacinação e gerenciamento do imunobiológico após a entrega nos
municípios é de responsabilidade da esfera municipal conforme as diretrizes do
Programa Nacional de Imunizações", diz o documento.
Natal diz que perda foi motivada
por ausência do público
Procurada pelo g1, a
Secretaria Municipal de Saúde de Natal disse em nota que a perda de doses
ocorreu por causa da ausência do público que deveria receber os imunizantes,
"mesmo com todo esforço da SMS Natal, em oferecer o maior número e
diversidade de pontos de vacinação".
"A SMS Natal não mediu
esforços para vacinar a população. Ampliamos horários dos pontos de vacinação,
ampliamos horários das unidades, ações extra muro como vacinação no Carnatal,
shoppings, árvore de natal, clubes de futebol, Sesc, escolas, hotéis, feiras
livres e pontos turísticos de Natal", disse. A cidade tem 35.648
pessoas com a terceira dose atrasada, segundo a SMS.
A pasta ainda afirmou que
solicitou o envio de doses congeladas à Secretaria de Saúde do Estado, o que
aumentaria o prazo de uso pelo município, mas a Sesap disse que a medida não
seria possível. Veja sobre o assunto mais abaixo, nesta matéria.
A justificativa apresentada pela
prefeitura de Natal foi a mesma de Mossoró, no Oeste potiguar. No final de
dezembro, o coordenador da imunização no município, Etevaldo de Lima, afirmou
que a cidade tinha mais de 8 mil pessoas em atraso para tomar a terceira
dose, porém o público não estava procurando a vacinação.
“Público nós temos. O que está
faltando é parte desse público buscar a vacinação contra a covid. Nós usamos de
todas as estratégias, pontos extras de vacinação, vacinamos de domingo a
domingo, porém a população não quer”, disse.
Sesap muda estratégia na distribuição das vacinas
Segundo a coordenadora de
Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap), Kelly
Lima, ao perceber a grande quantidade de doses que os municípios tinham em
dezembro, a pasta orientou as prefeituras sobre estratégias de ampliação
da vacinação, com unidades volantes em locais de grande circulação de pessoas,
por exemplo, mas nem todas as cidades aderiram.
"Quando já não havia tempo
hábil, os municípios procuraram o estado para garantir a utilização desses
doses, mas o tempo já era muito exíguo para que a gente conseguisse avançar.
Tentamos fazer forças-tarefas, mutirões, mas não é tão simples, porque os
municípios maiores têm dificuldade em realizar uma busca ativa mas
efetiva", justificou.
De acordo com ela, a situação
levou o estado a mudar a estratégia de distribuição das doses especialmente
para os maiores municípios, como Natal e Mossoró.
"Já desde dezembro, o envio
de doses só ocorre a partir de solicitação. Se o município acha que ele vai
conseguir utilizar 10 mil doses ao longo daquele mês, nós enviamos essas
doses", afirmou.
Até então, o governo enviava
as vacinas de acordo com a população de cada cidade e o número de pessoas
que tomou a primeira e a segunda dose em cada uma.
A Sesap ainda informou que
o Ministério da Saúde chegou a aumentar a validade de alguns lotes, em
outubro, mas que a medida abrange apenas as vacinas que ainda estão congeladas.
"Uma vez descongelada, não tem como congelar novamente ou ampliar o prazo
de validade", disse Kelly.
Envio de doses congeladas
A prefeitura de Natal
afirmou ao g1 que havia solicitado à Secretária Estadual de Saúde que
as doses fossem entregues congeladas, para que pudessem ter uma validade maior.
Porém a Sesap considerou que a medida não é possível por causa da
mudança da temperatura na distribuição iniciada pelo Ministério da Saúde.
De acordo com a pasta,
inicialmente o governo federal enviava as doses a temperaturas entre 2º e 8º C,
porém após o Ministério da Saúde conseguir caixas especiais, os imunizantes
passaram a ser transportados aos estados a - 20º C.
Ao chegar à Unidade Central de
Agentes Terapêuticos do Rio Grande do Norte, os imunizantes vão a temperaturas
entre - 60 e -70º C. Porém, de acordo com a bula da vacina, a vacina só pode
passar pela temperatura de - 20º C uma vez e por isso o estado começou a
repassar os imunizantes para Natal na mesma temperatura com que envia às demais
cidades potiguares.
Ainda assim, a pasta informou que
parte das doses que foram perdidas em dezembro ainda tinham sido enviadas
congeladas ao município.
Veja 10 municípios com mais
perdas de doses da Pfizer no RN
Natal - 21.900 doses
Mossoró - 5.274
Touros - 1.290
Parnamirim - 1.185
Maxaranguape - 1.140
Currais Novos - 720
Arês - 651
Poço Branco - 622
Riachuelo - 534
Lagoa Nova - 552
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