Passados pouco mais de dois meses da autorização dada pelo Governo
do RN para o retorno das aulas presenciais, suspensas em razão da
pandemia de Covid 19, quase dois terços dos municípios potiguares ainda
não retomaram as atividades. A explicação para isso está ligada ao tempo
necessário para a melhora na situação epidemiológica do RN e também a
dificuldades das secretarias na operacionalização do retorno, como
viabilização na compra de insumos, merenda e transporte. De acordo com
um levantamento da União dos Dirigentes Municipais de Educação no Rio
Grande do Norte (Undime/RN), 66 dos 167 municípios do Estado já
retornaram às salas de aula.
De acordo com o vice-presidente da Undime/RN, Alexandre Soares
Gomes, o retorno dos municípios às atividades escolares está dentro do
esperado e o número de cidades a voltar às aulas cresce a cada dia.
Segundo ele, o número não é maior porque os gestores em educação têm
encontrado dificuldades na obtenção de insumos, como merenda e itens
ligados às questões sanitárias. Ainda de acordo com ele, as incertezas
em virtude da greve por parte do Sindicato dos Trabalhadores em Educação
do RN (Sinte/RN) atrasaram o retorno.
“A questão da compra dos insumos foi um ponto. Muitos não tinham se
atentado, achando que não iam retornar agora, e quando foram às
compras, ou não encontraram ou quando acharam, não receberam. Muitos
municípios reclamaram dessa situação. E outro ponto foi a questão do
Sindicato dos Professores querendo o reinício somente após a imunização
completa”, comenta o gestor.
Além disso, segundo ele, as incertezas do retorno quando à rede
estadual também foram outro fator que pode ter atrasado a volta em
alguns municípios. “Tem a questão do Governo do Estado, que disse que
voltava, mas não voltou na realidade. Com isso, professores, pais,
deixam em dúvida a situação, se eles poderiam ou não voltar. Muitas não
poderiam retornar antes porque não tinham sistema próprio. Quando o
Governo liberou, a parte de legalidade, mas a publicidade interna dentro
da cidade, como por exemplo: meu filho não vai voltar no Estado, por
que vai voltar no município?”, cita.
Dois decretos regulamentaram o retorno às aulas presenciais no Rio
Grande do Norte. O primeiro deles, o decreto nº 30.516, de 22 de abril
de 2021, autorizou o funcionamento até o 5° ano do Fundamental e o 3°
ano do Ensino Médio. No outro, decreto nº 30.562, de 11 de maio de 2021,
a governadora Fátima Bezerra (PT) regulamentou a retomada das outras
séries do Fundamental e Ensino Médio. Em ambos os decretos, a taxa de
ocupação nos hospitais públicos do RN era de 90%. Os textos
condicionavam o retorno aos cenários epidemiológicos, assistenciais e de
transmissibilidade.
Municípios planejam retorno
Cidades como Mossoró, Caicó, Parnamirim, entre outras, ainda não
iniciaram o processo de retomada das aulas presenciais. Em Mossoró, por
exemplo, a secretária de educação , Hubeônia Alencar, disse que as
atividades só retornarão no município após imunização completa por parte
dos profissionais de educação.
“Um dos critérios para o retorno com segurança é a vacinação dos
profissionais da educação. Só retornaremos presencialmente com ciclo
vacinal completo. Já retornamos com atividades remotas desde 1° de
março, já iniciando o ano letivo de 2021”, explica. A previsão é que o
retorno seja iniciado no dia 13 de setembro, com possibilidade de essa
data ser alterada, começando a volta das atividades pelo Ensino
Infantil. Mossoró possui 20,1 mil estudantes.
Já em Parnamirim, a perspectiva da secretária Justina Iva de Araújo
Silva é que as aulas sejam retomadas no próximo dia 17 de agosto, com
os quatro níveis do ensino infantil. A cada 14 dias, as turmas voltarão
gradativamente. “Estamos com algumas pendências, como transporte escolar
e merenda, esperando o desfecho da licitação. Acreditamos que até o dia
17 teremos essas questões resolvidas, se não com a totalidade, mas com
as que estão literalmente prontas para receber os alunos”, explicou. São
67 escolas na cidade, totalizando 26,3 mil alunos.
Em Caicó, localizada no Seridó potiguar, o secretário de educação
do município, Sérgio André de Araújo, garante que as atividades vão
voltar no município no próximo dia 16 de agosto. O primeiro grupo é
composto do nível 3 e 5 da pré-escola e 1° e 2° ano do Ensino
Fundamental. Posteriormente, 14 dias depois, voltarão os níveis 2 e 4 do
Ensino Infantil e 3° ao 5° ano do Fundamental. Na última fase, voltarão
do 6° ao 9° ano, Ensino de Jovens e Adultos e nível 1 do Ensino
Infantil. Em Caicó, a rede pública municipal possui 23 escolas urbanas,
uma escola rural com administração própria e mais sete escolas rurais.
“Quando o Estado liberou a volta, fizemos o nosso calendário
observando as condições de Caicó e da região, pois vivíamos uma situação
delicada em relação à Covid. Assim que os índices começaram a melhorar,
então fizemos o planejamento do retorno”, disse. Segundo ele, as
escolas estão aptas ao retorno e as semanas que antecedem a volta serão
de capacitações e instruções para os servidores e trabalhadores em
educação.
Em Natal, as aulas foram retomadas desde o último dia 14 de julho,
mesmo com ameaça de greve por parte do Sinte/RN, que além de cobrar a
imunização completa para voltar às atividades, também pede um reajuste
de 12,78% no piso salarial da categoria, referente ao ano passado. A
Secretaria Municipal de Educação diz que o reajuste não pode ser pago no
atual momento.
Especialista avalia prejuízos na pandemia
A suspensão das aulas presenciais e a adoção do ensino remoto, e na
maioria dos casos, as atividades não presenciais, geraram uma série de
prejuízos aos estudantes, seja na esfera do conhecimento, seja na
sociabilidade com outros alunos. Na avaliação do professor Gustavo dos
Santos Fernandes, doutor em Estudos da Mídia e Mestre em Educação, a
questão da interação entre os pequenos é uma das principais preocupações
dos pais e professores.
“O ensino remoto acaba não dando essa possibilidade do aluno manter
uma interação com seus colegas de classe e professores. Esse é um dos
pontos que leva a uma grande reflexão. No ensino remoto, o aluno fica
mais excluído desse processo. Quando se está de forma presencial, se
brinca, conversa, se tem uma dúvida pode se perguntar a um professor, a
um colega de sala. As relações são muito mais ativas”, avalia Soares,
que também é secretário de educação de Ielmo Marinho.
Ainda segundo o especialista, a ausência das aulas presenciais é
ainda mais sentida entre as crianças dos níveis iniciais no tocante ao
desenvolvimento motor dos pequenos. “É muito comum identificarmos em
crianças que passam mais tempo na internet, que elas são mais
introspectivas na vida social Então acredito que o ensino remoto acaba
potencializando esse comportamento entre os jovens. Outro ponto que vejo
que é muito forte é a psicomotricidade. Presencialmente, a criança está
correndo, brincando, em movimento. E essas crianças dos anos iniciais,
elas estão nessa evolução psicomotora. No ensino remoto a criança deixa
de correr, brincar, então atrapalha nisso também”, aponta.
Outro ponto também está ligado à questão da desigualdade e falta de
condições dos alunos. Uma reportagem da TRIBUNA DO NORTE publicada no
dia 11 de julho de 2021 mostrou que metade dos alunos da rede estadual
não tinha acompanhado as aulas. Em muitos casos, a falta de internet,
ter que dividir um celular com os pais e outras questões inviabiliza o
aprendizado.
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