
Um estudo inédito conseguiu mapear o alcance das “fake news” sobre
vacinas e quem estaria por trás disso, conforme mostra reportagem do ”
Fantástico ” deste domingo. Segundo a pesquisa, encomendada ao Ibope
pela Avaaz, ONG de mobilização social, e pela Sociedade Brasileira de
Imunizações, sete em cada dez brasileiros ouvidos afirmaram que já
acreditaram em pelo menos uma notícia falsa sobre vacina.
O levantamento aponta ainda que 57% dos que não se vacinaram citaram
um motivo relacionado à desinformação. E quase metade (48%) dos 2.002
entrevistados pelo país falaram que têm as redes sociais e os
aplicativos como uma das principais fontes de informação sobre vacina.
— Não é exagero nenhum a gente falar que existe uma epidemia de
desinformação no Brasil sobre vacinas — afirma Nana Queiroz,
coordenadora de campanhas da Avaaz.
A pesquisa analisou 30 “fake news” que circulam no Brasil, com
conteúdos a exemplo de “o governo usa vacina como método de
esterilização” e “vacinas podem sobrecarregar o sistema imunológico das
crianças”. Só no Facebook, elas tiveram mais de 23 milhões de
visualizações. Nana salienta que, de cada dez, três vinham do mesmo site
americano de um homem chamado Mike Adams — nos EUA, Youtube e Facebook
baniram o endereço.
— Mas no brasil, as plataformas e os sites não tomaram o mesmo
cuidado, porque o conteúdo desse site está sendo traduzido pra um site
homônimo brasileiro — diz Nana.
No Youtube, destaca-se o nome de Jaime Brunning, que se autointitula
professor e terapeuta naturista há mais de 30 anos. Ele prega que as
vacinas são parte de um complô mundial pra controlar a população.
“Está surgindo uma nova ordem mundial, um controle global da
humanidade. Nas vacinas estão colocando vírus do câncer, fungos do
câncer” diz ele, em um vídeo.
Brunning atua em um endereço de Americana, no interior de São Paulo,
onde vende curas espirituais e um livro em que divulga essas
informações. A equipe do “Fantástico” tentou contato, mas ele não quis
participar da reportagem.
Em nota, o Whatsapp diz que trabalha para reduzir a viralização de
rumores, limitando o encaminhamento de mensagens e banindo o envio de
mensagens em massa. Já o Facebook alega que, em temas importantes como
vacinação, trabalha com especialistas para entender no que pode
melhorar. E o Youtube afima que tem dado maior destaque para conteúdos
de saúde de fontes confiáveis e que conta com os usuários para denunciar
conteúdo inadequado.
O Ministério da Saúde informa que recebe pelo número de Whatsapp (61)
99289-4640 pedidos de checagem de informações. A pasta diz já ter
identificado 13,8 mil mensagens com conteúdo falso, e o resultado da
checagem é publicado no site.
Epidemia de sarampo
Enquanto isso, os números da cobertura vacinal no Brasil estão abaixo da meta de 95%, taxa ideal para a maioria das vacinas.
— O movimento antivacina sempre existiu no Brasil. Sempre foi muito
pequeno e continua, felizmente, muito pequeno. O que mais preocupa hoje é
a hesitação, ou seja, as pessoas que ficam na dúvida porque não são
informadas ou porque recebem informações erradas. E deixam de se vacinar
— diz Isabella Ballalai, pediatra e vice-presidente da Sociedade
Brasileira de Imunizações, que complementa: — São fatos perigosos pra
gente assistir, como, por exemplo, o sarampo de volta ao brasil.
Só em 2019, já foram confirmados quase 10,5 mil casos de sarampo no
país. Segundo o Ministério da Saúde, a vacinação contra a doença passou
de 96%, em 2015, para 57% das crianças até outubro deste ano.
A primeira dose contra a poliomielite também registrou uma quedra brusca: de 98% dos recém-nascidos para 51% no mesmo período.
— O Brasil tem o maior programa de vacinações do mundo, de graça,
pelo SUS. Com esse programa, nós conseguimos, num país de dimensões
continentais, eliminar doenças como a poliomielite, a variola e até o
sarampo, que agora ressurge provocando a morte de algumas crianças não
vacinadas. Infelizmente, há pessoas inescrupulosas que divulgam notícias
falsas, constestam a eficácia das vacinas e inventam complicações que
seriam causadas por elas. Essa gente coloca em risco a vida das nossas
crianças. Isso é crime — diz o oncologista Drauzio Varella.
O Globo
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