A promotora Simone Sibílio, coordenadora do Grupo de Atuação Especial
no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Rio de
Janeiro (MPRJ), disse hoje (30) que o porteiro do Condomínio Vivendas
da Barra mentiu sobre ter ligado, a pedido de Élcio Queiroz, suspeito da
morte da vereadora Marielle Franco, para a casa da família do
presidente Jair Bolsonaro. A afirmação ocorreu durante entrevista
à imprensa, na sede do MP, na tarde de hoje (30).
Segundo ela, o sistema de gravação de ligações do interfone do
condomínio comprova que, em 14 de março de 2018, dia do assassinato de
Marielle, o porteiro, a pedido de Élcio, ligou para Ronnie Lessa, também
acusado do crime, e não para a casa de Bolsonaro, como chegou a ser
escrito à mão em uma suposta planilha de entrada.
“Por que o porteiro lançou o número 58 [casa de Bolsonaro]? Pode ser
por vários motivos, que serão apurados. O fato é que as ligações
comprovam que Ronnie Lessa é quem autoriza e que Élcio vai para a casa
de Ronnie Lessa. [O porteiro] mentiu. Isto está comprovado com a prova
técnica. O porteiro foi ouvido duas vezes”, disse Simone Sibílio. As
informações sobre o depoimento do porteiro foram divulgadas em
reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, na noite de ontem (29).
De acordo com a promotora, o porteiro, que ainda não teve o nome
revelado, poderá responder por crime de falso testemunho. Porém, ela não
quis responder se o funcionário, com a prova técnica da gravação que
contraria seu depoimento inicial, poderia passar da condição de
testemunha para a de acusado no inquérito.
“Por que o porteiro deu este depoimento, se ele se equivocou, se ele
esqueceu, se mentiu, qualquer coisa pode ter acontecido. Então ele pode
esclarecer novamente. Por que ele deu este depoimento, evidentemente
isso será checado. Mas o que importa é que quem autoriza a entrada é o
Ronnie Lessa. É o executor do crime autorizando o outro executor. Eles
se encontram ali e partem para a empreitada criminosa para matar
Marielle Franco e Anderson Gomes”, complementou Simone Sibílio.
Na manhã de hoje, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, pediu ao procurador-geral da República,
Augusto Aras, que abra um inquérito para apurar “todas as
circunstâncias” da citação do nome do presidente Jair Bolsonaro nas
investigações.
Na entrevista, a promotora Simone Sibílio contou que, devido ao fato
de o nome do presidente Bolsonaro ter sido citado durante
a investigação, ela esteve com o presidente do Supremo Tribunal Federal
(STF), ministro Dias Toffoli, a quem entregou o depoimento do porteiro.
Ela disse que Augusto Aras também tomou ciência do conteúdo.
“Esse encontro [com o presidente do STF] foi protocolar. Nós fomos
enviar o depoimento em que era citada uma autoridade com foro com
prerrogativa de função. [O PGR] também tomou ciência. A partir daí a
questão já está posta no STF. Ainda não há distribuição. O importante a
ressaltar é que essa questão já foi levada ao STF”, reforçou a
promotora.
Também participaram da entrevista as promotoras Letícia Emile Petriz e
Carmen Bastos de Carvalho. De acordo com as promotoras, a planilha
eletrônica de acesso ao condomínio, bem como as gravações de áudio,
foram periciadas e não foram encontraram irregularidades técnicas nas
provas.
A vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram
assassinados a tiros em 14 de março do ano passado. Os disparos foram
efeituados de um carro contra o veículo em que os dois se encontravam,
em meio ao trânsito, na região central do Rio de Janeiro.
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