'Eu não dormia, eu não
trabalhava, eu não comia por causa das ameaças dele', revela uma das vítimas ao
Fantástico.
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“Eu quero me entregar completamente
como escrava para você. Quero que você me use do jeito que você quiser e de
todas as formas.”
“Estou disposta a fazer tudo o
que você me mandar. E a cumprir com as punições caso eu te desobedeça. Serei
eternamente sua escrava.”
Esses depoimentos foram feitos
por mulheres que estavam sendo ameaçadas e coagidas por um homem acima de
qualquer suspeita, mas que, segundo a polícia, era na verdade um estuprador em
série.
Roney Schelb escolhia suas
vítimas nas redes sociais. Ele se aproximava das mulheres, prometia pagar por
nudes - fotos e vídeos sensuais -, enviava falsos recibos de transferência
bancária e depois que recebia as primeiras imagens, começavam as chantagens.
“Ele fazia uma promessa que
variava de 4 a 10 mil reais apenas para algumas fotografias e alguns vídeos em
poses sensuais. Só que, já de posse desses vídeos, de posse dessas fotografias,
ele os utilizava para extorquir as vítimas, alegando que iria divulgar isso
para familiares, iria divulgar isso para amigos, e no seu local de trabalho”,
conta o delegado Magno Machado Oliveira.
“A primeira coisa que eu pensei
foi na minha família. Como eles iriam me olhar depois disso”, relembra uma
vítima. “Ele pedia muito arquivo durante o dia. Eram mais de vinte vídeos e
fotos todos os dias. E era obrigado a mandar. E ele pedia para tirar as fotos
de calcinha e sutiã”, conta outra vítima.
Roney era líder em um grupo de
jovens da Renovação Carismática de uma igreja católica em Muriaé, na Zona da
Mata Mineira. Mas, de acordo com a investigação da Polícia Civil, toda essa
religiosidade era parte de um personagem criado por ele. E ele teria criado
vários. Os outros tinham nome, sobrenome e até perfis nas redes sociais. Que,
de acordo com os investigadores, foram criados pra que ele conseguisse enganar
e estuprar mulheres.
Ele controlava cinco perfis
falsos em redes sociais e aplicativos de troca de mensagens. A vítima
acreditava que estava conversando com várias pessoas, mas na verdade todas as
mensagens eram escritas por Roney.
“Achávamos que se tratava de uma
quadrilha, de uma organização de favorecimento à prostituição, sendo que a
pessoa agia sozinha”, explica o delegado.
Numa palestra para os jovens da
igreja, ele chegou a citar o livro “Cinquenta Tons de Cinza”. Na história, um
milionário elabora um contrato de submissão com uma mulher.
A polícia encontrou um contrato
de escravidão consentida - com elementos que lembram o contrato do filme - na
casa do suspeito. O documento, assinado por uma das vítimas, diz que ela teria
que fazer tudo que ele quisesse, sem limites.
O contrato criado por Roney
estabelecia que as mulheres autorizassem que ele as agredisse com a força que
quisesse e a qualquer momento. “É uma aberração jurídica, não há qualquer
fundamento prático, legal, pra ele obrigar uma pessoa a assinar esse tipo de
contrato. É uma coisa que não existe no mundo jurídico”, diz o delegado.
A investigação começou depois que
uma das mulheres decidiu procurar a Delegacia de Crimes Cibernéticos. Com um
mandado de busca e apreensão, a polícia foi até a casa de Roney, na região
metropolitana de Belo Horizonte, e encontrou, um arquivo detalhado com todas as
informações das vítimas - tratadas por ele como escravas sexuais. Ao todo, 173
mulheres, de 11 estados e do Distrito Federal.
“Ele sabia onde eu trabalhava.
Ele sabia o nome da minha mãe. Ele sabia qual igreja a minha mãe frequentava.
Então, assim, sabia praticamente tudo”, diz uma vítima. “Falava com a gente que
ia matar nossa família”, conta uma outra vítima.
Os investigadores descobriram que
várias mulheres foram obrigadas a se encontrar pessoalmente com ele e então
foram estupradas. “Queria ter relação comigo e gravar todo o dia, mesmo eu não
querendo. Eu não podia falar nem para minha melhor amiga. Porque se ele ficasse
sabendo que eu estava falando para alguém, ele poderia vir atrás de mim”, diz
uma vítima.
As vítimas dizem ainda que ele as
obrigava a fazer sexo sem preservativo. “Você ainda não fez exames médicos?”,
questiona o repórter. “Não. Ainda não tive essa coragem. É o que mais me
apavora”, admite uma das mulheres.
Mulheres de outros estados também
eram chantageadas pela internet. "É o chamado estupro virtual, porque
essas mulheres eram obrigadas a fazer sexo com terceiros ou praticar sexo com
animais, gravar esses vídeos e enviar para o Roney", explica o delegado.
A polícia identificou oito
menores de idade entre as vítimas. Roney negou todas as acusações: “Quando se
fala em estupro se imagina atos de violência ou alguma coisa do tipo. Eu nunca
fiz nada disso, eu sou inocente."
Ele vai responder por diversos
crimes de estupro e violação sexual mediante fraude. ”Era um cidadão sádico,
que praticou um grande número de crimes. Crimes contra a dignidade sexual das
mulheres. Crimes contra a humanidade. Uma vez que ele fazia essas mulheres de
escravas, da forma mais covarde e assustadora que tivemos notícias”, afirma o
delegado Magno Machado.
“Uma pessoa ser violentada, dessa
maneira que a gente foi, eu acho que ninguém consegue imaginar. Eu não dormia,
eu não trabalhava, eu não comia. Por causa das ameaças dele. Espero muito que a
justiça seja feita", afirma uma vítima. "O que ele fez com a gente
não é humano, não”, conta outra mulher.
G1
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