domingo, 2 de junho de 2019

Polícia Militar do RN - O 'exército' de seguranças privados

Aura Mazda
Repórter 

A elevação histórica dos indicadores da violência no Rio Grande do Norte, aliada a falta de efetivos e investimentos em segurança pública, abriu espaço a um fenômeno social e comercial: o crescimento dos serviços de segurança privada. De acordo com dados atualizados da Polícia Federal, o RN tem 6.812 vigias em atuação em 39 empresas regulamentadas. Isso significa que, para cada Policial Militar em atuação no Estado, há um vigilante. O 'exército' de seguranças privados, apesar de não substituir o trabalho de um policial, segundo análise de especialistas, é fundamental para não agravar a sensação de insegurança constantes.
Atualmente, entre praças e oficiais, a PMRN dispõe de 7.978 homens e mulheres, sendo 7.514 praças e 464 oficiais. Extraindo os que estão cedidos a outros órgãos e em licença médica, esse efetivo gira em torno de 6.500 pessoas. A Lei Complementar nº 449, de 20 de dezembro de 2010, diz que o estado deveria ter um efetivo de 13.466 policiais militares, sendo 12.791 praças e 675 oficiais. É quase o dobro do que realmente existe em atuação. É considerada a necessidade de se ter um policial para cada grupo de 250 pessoas.
Com a experiência de mais de 30 anos em segurança pública e 25 anos em segurança privada, o major Jorge Ferreira de Oliveira Filho, sócio da Feroli - Academia de Formação de Vigilante e Tiro, é categórico: a atividade policial não substitui a da segurança privada, e vice-versa.
O major explicou que apesar de crise financeira e advento de equipamentos eletrônicos, a vigilância feita pelo homem é fundamental. “A segurança privada depende da pública, elas são aliadas, as duas deveriam estar muito mais integradas”, explicou. Existem atividades específicas da segurança privada, que são: patrimonial, transporte de valores, escolta armada, segurança pessoal e em grandes eventos. “A segurança pública atua também nessa área, mas é de responsabilidade da segurança privada”, explica.
Especialista em segurança pública e proprietário de uma empresa de segurança com mais de 25 anos de experiência na área, Ricardo Roland, observa a queda de procura por vigilantes privados. “O maior consumidor de segurança privada são órgãos públicos, com destaque para a saúde, mas todos estão reduzindo o efetivo. A segurança privada não tem a mesma capacidade de reação de um policial militar, mas de longe é como um Policial Militar”, observa Roland, explicando que a contratação de quatro vigilantes custa em média R$ 20 mil, por mês.
Mesmo sendo uma das atividades mais bem remuneradas dentro do ramo da segurança privada, o transporte de valores exige um rigoroso treinamento e consome também o psicológico de quem trabalha na área. Em função da ampla exposição a riscos eminentes, e de ser uma atividade visada por quadrilhas criminosas, o salário é maior do que nas demais atividade.
Foi por causa de uma situação em que presenciou um assalto, que o vigilante Márcio*, 36 anos, decidiu deixar o posto como segurança de transporte de valores. Hoje, ele atua na área da segurança, mas em uma atividade considerada de menor exposição a riscos. “Quando o carro foi cercado por bandidos altamente armados, senti o que aprendi na teoria, mas que não desejo que ninguém passe na prática. Somos muito bem treinados, em todos os sentidos, mas passar por aquilo me fez ver a vida de outro jeito”, disse.
O que diz a PM
A Polícia Militar, por meio da assessoria de imprensa, explicou que a segurança privada é um segmento empresarial que não é visto como algo negativo. Segundo a PM, os dois segmentos devem atuar de forma aliada.

*Nomes alterados a pedido dos entrevistados por medida segurança

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