Os distúrbios de aprendizagem acometem de 5 a 15% de crianças em idade
escolar, em diferentes idiomas e culturas, sendo os específicos em
leitura e escrita altamente prevalentes. O dado é do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V, 2015), publicação da American Psichiatric Association.
Distúrbios de aprendizagem são problemas que afetam a capacidade da
criança de receber, processar, analisar ou armazenar informações. Os
distúrbios podem dificultar a aquisição, pela criança, de habilidades de
leitura, escrita, soletração e resolução de problemas matemáticos.
Para alertar e colocar este assunto em debate também entre a
população, a Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) promove neste
mês a campanha Junho Púrpura - Distúrbios de Aprendizagem: conhecer,
perceber, enfrentar. O objetivo é levar dados e atualização aos
pediatras sobre o aprendizado, suas dificuldades e distúrbios.
“Precisamos trazer o problema para o consultório e não deixá-lo
apenas na escola e, dessa forma, contribuir para uma orientação aos
pais, esclarecendo dúvidas e ajudando as famílias na difícil escolha dos
especialistas ou profissionais que devem procurar”, afirmou a
presidente do Departamento de Otorrinolaringologia da SPSP e
coordenadora da campanha, Renata Di Francesco.
Segundo o coordenador de campanhas da SPSP, Claudio Barsanti, a
conscientização dos profissionais de saúde para a questão é fundamental.
“O quanto antes a causa dos distúrbios for detectada, melhor. Dessa
maneira, serão realizadas as intervenções necessárias para que essas
crianças possam ter um diagnóstico e encaminhamento adequados”.
Barsanti explicou que sinais como alterações na percepção, escuta,
visão, entre outros, devem ser observados e tratados o mais rapidamente
possível. “Os profissionais devem estar atentos nesse sentido, pois o
tratamento adequado precoce fará toda a diferença no futuro dessas
crianças”, ressaltou.
Entre as ações da campanha, fazem parte o treinamento com os
pediatras e materiais orientadores aos pais. “A campanha vai apresentar
textos de orientação à população inseridas no blog do site da SPSP,
vamos elaborar um curso de orientação aos pediatras e outros textos de
orientação aos médicos. É uma campanha que visa as duas frentes, que é a
orientação dos pacientes e dos médicos para que isso seja bem
englobado”, informou Renata.
Para a coordenadora da campanha, é importante trazer essas queixas escolares para os médicos durante a consulta.
“Às vezes os pais estão muito preocupados com doenças, com peso,
altura, com infecções e deixa de falar que a criança não está indo bem
na escola. Muitas vezes o aproveitamento ruim da criança na escola está
relacionado com déficits auditivos, com problemas visuais e às vezes com
coisas mais complexas, por exemplo, uma dislexia ou outros distúrbios
importantes que possam estar relacionados com esses problemas.”
Após observar algumas alterações no modo de fazer a lição de casa de
seu filho Rafael, de 7 anos, a pesquisadora A.B., que prefere ter seu nome preservado, disse que vem percorrendo uma longa jornada para fechar o diagnóstico de seu filho.
Inicialmente ele foi diagnosticado, por meio de uma avaliação
neuropsicológica, como portador do Transtorno do Déficit de Atenção com
Hiperatividade (TDAH), mas ele pode ter
o Transtorno do Processamento Auditivo Central. A criança vem sendo
acompanhada pelo pediatra, e também por fonoaudiólogo e psicóloga.
“Comecei a perceber em casa que ele estava com dificuldade para fazer
certas lições e coisas que ele já tinha aprendido, foi uma dificuldade
que me chamou atenção. Marquei uma reunião com a escola que confirmou,
achando que ele estava com um pouco de dificuldade para avançar e
sugeriu que ele fizesse a avaliação neuropsicológica”.
Após esta avaliação, a pesquisadora conta que começou uma ‘via
crucis’ atrás de especialistas. “A gente começou a procurar psicólogas,
fui em cinco diferentes até eu achar uma que condissesse com o que eu
penso, fui em neurologista, e os dois disseram que o TDAH precisa de
medicação”.
Mas a pesquisadora não estava confiante em medicar seu filho e foi em
busca de outras avaliações. “Comecei a entrar em outras vias, ele faz
tratamento psicológico, fui atrás [para saber] do Transtorno do
Processamento Auditivo Central e quando percebi que ele tinha essa
alteração, eu apostei todas essas fichas nisso. Até a gente solucionar
essa alteração, eu não quero pensar em medicação, ele vai fazer tudo o
que tem que fazer com fonoaudióloga e um psicomotricista para ajuda-lo”.
Desde então, ela disse que ele vem evoluindo bem. “A escola mesmo
disse que ele está bem mais concentrado, conseguindo acompanhar bem a
turma, ele jamais teve que fazer uma prova diferenciada, ele tem ajuda
na hora do enunciado, mas está indo bem e a parte social também está
supercontrolada”.
Ela aconselha às famílias a se informar muito quando se deparar com
algum transtorno de aprendizagem. “Leia tudo, mas não dê apenas um ‘google’,
mais do que isso, é importante procurar um profissional que você confie
e se informar muito. A informação é a única coisa que vai te ajudar a
ajudar seu filho, entender do que se trata é fundamental para as ações
que terá em seguida e eles precisam muito da gente”, finalizou.
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