O desempenho do candidato Fernando Haddad nas mais recentes pesquisas do Ibope e Datafolha e a ameaça de uma derrota no primeiro turno para Jair Bolsonaro
(PSL) acentuaram diferenças internas e levaram o PT a procurar culpados
e buscar correções na reta final da disputa presidencial nas eleições 2018.
O principal revés da candidatura Haddad ocorreu no índice de rejeição,
que disparou nos últimos dias – crescendo de 9 a 11 pontos porcentuais
nas sondagens dos institutos divulgadas nesta semana.
Segundo relatos, as discordâncias entre o círculo
mais próximo de Haddad e o grupo ligado à direção do PT ficaram
evidentes na reunião da coordenação da campanha realizada nesta
terça-feira, 2, na casa que abriga a produtora de vídeos da campanha, em
São Paulo.
Enquanto um grupo defendia que o candidato imponha
mais sua personalidade e seja “mais Haddad” nesta reta final para
amenizar os efeitos do antipetismo, outro exigia a manutenção do roteiro
original traçado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – condenado e preso na Operação Lava Jato –, no qual o candidato é o porta-voz do programa de governo elaborado pelo PT.
Aos poucos, as críticas até aqui veladas ao programa
de governo, considerado “radical” por muitos petistas, começam a ficar
públicas. Na terça-feira, o deputado Paulo Teixeira
(PT-SP) afirmou, durante evento de campanha em um bar na Vila Madalena,
na zona oeste da capital paulista, que Haddad deve abandonar a proposta
de convocação de uma Constituinte, prevista no programa.
“Tira do programa. Dá uma tesoura para recortar esse
negócio de Constituinte, que já está sendo explorado pela direita”,
disse Teixeira, sob aplausos.
O diagnóstico de que uma onda de fake news
direcionada para ao eleitorado evangélico de baixa renda é o maior
motivo para o aumento da rejeição ao candidato também é alvo de
especulações internas. Para setores importantes do PT, a campanha falhou
ao subestimar o potencial de estrago das fake news. A área jurídica
também é alvo de críticas por não conseguir derrubar na Justiça as
postagens falsas em tempo compatível com o ritmo da campanha
presidencial.
Até a semana passada integrantes da coordenação da
campanha consideravam as fake news inofensivas e se diziam mais
preocupados com a cobertura da mídia tradicional, segundo eles
antipática ao PT. “A campanha tem respondido prontamente a todas
calúnias e notícias falsas, o que não quer dizer que isso é suficiente”,
afirmou o secretário nacional de Comunicação do PT, Carlos Árabe.
Árabe admite que a estrutura de Bolsonaro nas redes,
segundo o petista montada em 2013, é mais eficiente e bem estruturada do
que a do PT, criada a partir de 2016.
O ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, responsável pelo setor jurídico da campanha, foi procurado mas não respondeu.
O desempenho sofrível dos candidatos do PT aos governos de São Paulo, Luiz Marinho, e do Rio, Marcia Tiburi,
também é apontado por dirigentes e lideranças petistas como um dos
motivos para que o ritmo de crescimento de Haddad nas pesquisas tenha
diminuído. Marinho, com 8% das preferências, segundo o Ibope, tem, por
enquanto, o pior desempenho de um petista da história no maior colégio
eleitoral do País. Marcia, com apenas 5% no Ibope, amarga a sétima
colocação no Estado que tem o terceiro maior eleitorado do País.
Haddad, que teve crescimento meteórico desde que foi
oficializado candidato, no dia 11 de setembro, estacionou em 21% na
penúltima pesquisa Ibope/Estado/TV
Globo e oscilou positivamente para 23% na sondagem divulgada ontem.
Petistas ainda temem que Bolsonaro seja eleito na votação em primeiro
turno.
Temer. O PT tenta estancar o crescimento do candidato do PSL o associando à política econômica do governo do presidente Michel Temer
(MDB). “Infelizmente o governo Temer termina melancolicamente e o que
eu vejo de mais triste ainda é o Bolsonaro querer dobrar a aposta do
governo Temer”, disse Haddad à Rádio Jornal de Pernambuco.
Ainda nesta quarta-feira, 3, começou a circular no
horário eleitoral a primeira inserção da campanha petista na TV que cita
nominalmente Bolsonaro. Na peça, o PT afirma que o candidato do PSL
votou a favor de medidas do governo Temer e “contra o trabalhador” como a
reforma trabalhista e conclui: “Já basta o Temer”.
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