Assembleias legislativas e câmaras de vereadores estão usando uma
decisão do STF para tirar da cadeia parlamentares envolvidos em
corrupção.
Deputado estadual Ricardo Motta foi afastado por seis meses
pelo Tribunal de Justiça, suspeito de participar de desvios de recursos
do Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Estado, o Idema
Assembleias legislativas e câmaras de vereadores estão usando uma decisão do Supremo Tribunal Federal
para tirar da cadeia parlamentares envolvidos em corrupção e devolvendo
a eles os mandatos. Juristas consideram que está havendo abuso.
Assembleias estaduais e câmaras municipais agiram rápido. Tudo com base
em decisão do Supremo Tribunal Federal, que diz que medidas cautelares
contra parlamentares podem ser derrubadas pelo Legislativo, como mostra
reportagem publicada nesta sexta-feira (3) pelo jornal “O Globo”.
Deputados estaduais e vereadores têm se beneficiado pela medida. A
Associação dos Magistrados Brasileiros disse que vai recorrer ao Supremo
para reverter as decisões. A AMB considera que a ação das assembleias e
câmaras coloca em xeque a atuação da Justiça.
“O Supremo tem que resguardar a autoridade do Poder Judiciário, sob
pena de nós estarmos brincando de democracia”, disse o presidente da
AMB, Jayme de Oliveira.
A votação no Supremo aconteceu no dia 11 de outubro. O Supremo decidiu
que o Senado teria a palavra final sobre punições cautelares impostas ao
senador tucano Aécio Neves por turma do próprio Supremo. Resultado: o
Senado rejeitou as punições e Aécio voltou a exercer livremente seu
mandato.
No Rio Grande Norte, duas decisões baseadas no entendimento do
Supremo. O deputado estadual Ricardo Motta foi afastado por seis meses
pelo Tribunal de Justiça, suspeito de participar de desvios de recursos
do Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Estado, o Idema.
Foi liberado para voltar ao mandato pelos deputados daquele estado. Só
não reassumiu ainda porque a procuradora-geral da República, Raquel
Dodge, pediu ao Supremo que o mantenha afastado. Ela alega que a
Assembleia revogou o afastamento com o caso ainda tramitando no STF. Na
ação ordinária encaminhada ao Supremo, a procuradora-geral diz que foi
aberto um perigoso precedente de absoluto desrespeito à decisão
judicial.
Já a Câmara Municipal de Natal aprovou no final de outubro o retorno do
vereador Raniere Barbosa, do PDT, que está afastado desde julho, após a
deflagração da Operação Cidade Luz, que investiga superfaturamento e
pagamento de propina nos contratos da iluminação pública de Natal. Mas o
procurador do Legislativo municipal acha que ele não pode ser
beneficiado pela decisão do Supremo.
“Não há imunidade para o parlamentar municipal. A regra constitucional é
clara para congressistas. Não cabe outra interpretação que não seja a
literal em relação a senadores e deputados federais”, diz Valdemir
Oliveira, procurador da Câmara de Natal.
O jurista Oscar Vilhena Vieira critica o uso da decisão do Supremo por estados e municípios
“Os estados e municípios deveriam aguardar a publicação do acórdão para
ver como, detalhadamente, foi estipulado pelo Supremo Tribunal Federal.
No entanto, eles estão agindo dentro dessa janela de oportunidade,
vamos dizer assim, que foi aberta por esse mau precedente do Supremo.
Isto sem dúvida nenhuma enfraquece a aplicação da lei no Brasil.
Ampliam-se as esferas de exceção. Me parece que houve uma expansão dos
privilégios parlamentares. Isto é ruim para a democracia, isto é ruim
para o devido processo legal”, explica Oscar Vilhena, professor de
direito constitucional da FGV.
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