Desde que o mundo é mundo, a gente se droga. Religiões, celebrações,
rituais e a medicina. As formas de consumo variam de sociedade para
sociedade, mas em todas elas procuramos formas de alterar a nossa
consciência e organismo.
Mesmo que você não concorde com isso, é possível dizer que as drogas não influenciam direta ou indiretamente em sua vida?
Mesmo quem não faz consumo de nenhuma droga, a de convir que elas
existem, e são muito consumidas. São receitadas nos hospitais, nos
bares, nas biqueiras e nas farmácias. Pessoas são presas supostamente
por causa do tráfico de drogas, atualmente cerca de 170 mil. Atualmente
remédios tarja preta estão ocupando a lista dos mais vendidos, e são
vendidos legalmente.
Por que não estamos falando sobre drogas nas escolas?
Pois é, estamos. Ou melhor, estão. Chama-se PROERD o nome do programa
que “debate” com jovens e adolescentes as drogas. Aliás, desde 1992. Há
25 anos crianças e adolescentes de 7 a 14 anos em todo o país estão
ouvindo e cantando:
A criminalização das drogas também criminaliza falar sobre drogas,
debater o tema em profundidade em espaços públicos. E as escolas são um
espaço em que falar sobre isso está fadado à discussão sobre as
problemáticas do consumo, o quanto a droga vai destruir a sua vida.
Quem já faz uso de drogas ou convive com isso de forma tranquila, não
tem informação nenhuma. Esse quadro se torna mais perigoso quando
olhamos para as pesquisas sobre o consumo de drogas na juventude.
“O Estado tem a função, além de elaborar e controlar a qualidade das drogas, ele tem que informar da forma mais completa e razoável possível, tudo que se dispõe em termos de conhecimento sobre as drogas. Agora, a decisão de usar ou não, queira o estado ou não, é individual”.
Acserald é autora de Educação Para Autonomia,
em que defende uma educação sobre drogas nas escolas com o objetivo de
“recuperar a memória de outros usos no passado não tão distante e também
no presente, que davam prazer sem danos, na medida em que cercados de
controles sociais construídos coletivamente”.
Debater conceitos perpetuados pela proibição e as convenientes visões
estereotipadas da mídia é fundamental nesse processo, só dessa forma
políticas públicas voltadas para ampliar informações sobre drogas serão
possíveis.
“O Programa Educacional de Resistência às Drogas/PROERD, de inspiração norte-americana, leva policiais às escolas brasileiras com o discurso proibicionista da abstinência – “drogas nem morto”, “diga não às drogas”. Perigoso do ponto de vista pedagógico – sem dúvida é melhor estar vivo, poder refletir e agir de forma protetora de si no caso de experiência de uso de drogas, travestindo policiais em educadores, difunde o medo e confundi”, diz Acserald em Educação para Autonomia.
É urgente que a educação sobre drogas esteja mais presente nas
escolas, ampliando o debate para além das fronteiras impostas pelo
proibicionismo. Somente assim a política de drogas no Brasil será
reformulada, se voltando para a garantia de direitos da população.
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