Este ano, a média diária tem sido de seis homicídios, a maioria deles em cidades próximas a Natal |
“Verdadeiras populações estão sendo
dizimadas”, avalia o coordenador do OBVIO e especialista em segurança
pública, Ivênio Hermes. “Nós vimos isso em outros anos. Este ano,
piorou”, completa.
A estimativa traçada pelo coordenador prevê
que o RN terá pelo menos 2.200 homicídios até o fim deste ano. A
quantidade é maior que a população de quatro municípios potiguares. No
entanto, caso a média de seis mortes por dia se mantenha, 2017 fecha com
2.575 assassinatos, o que representa a superioridade em relação ao
número de habitantes de oito cidades do RN. “Nós observamos uma mudança
este ano. Historicamente, outubro é o mês mais violento, mas este ano
tivemos agosto e setembro com o índice altíssimo. Caso a escalada
continue, teremos um outubro mais sangrento”, afirma.
A marca de setembro significa aumento de 41,6%
em relação ao mesmo período de 2016 (161 mortes) e 74% maior do que
2015, quando 131 pessoas foram assassinadas naquele mês. A elevação
acompanha o registro dos outros meses em 2017. Este ano, somente junho
teve menos crimes do que em 2016 – dois a menos (173 contra 175). No
geral, os homicídios cresceram 27,5%. Até o fim de setembro de 2016,
1.417 haviam sido mortas.
O que explica a escalada da violência, para
Ivênio, é a ausência de políticas públicas efetivas que trabalhem com a
prevenção ao crime. “Hoje, o Estado só trabalha com políticas de
respostas. Não há contraponto as ações ostensivas porque as instituições
de segurança estão defasadas. Falta investimento que possibilitem
investigação, por exemplo, e o Estado acaba sendo ausente”.
Já a Secretaria Estadual de Segurança Pública
(Sesed) justifica os números de homicídios em setembro ao acirramento
das disputas entre facções criminosas. Ainda de acordo com a Sesed, as
operações feitas pela Polícia Militar e Civil causou o enfraquecimento
dos grupos, o que aumentou a tensão entre eles. “Esse desmantelamento
das organizações fez com que aumentasse a disputa de espaço entre eles,
gerando assim uma elevação na quantidade de homicídios, em alguns casos
com várias mortes em um mesmo local”, afirma por meio de nota.
“Esse grupos também estão matando na tentativa
de chamar atenção da população, em razão da frequente presença policial
nestas comunidades. Mas nós não deixaremos de realizar as operações e
também investigaremos todos os casos de homicídios que estão
acontecendo. Continuaremos o nosso trabalho", declara a secretária de
Segurança, Sheila Freitas. O Governo do Rio Grande do Norte também
afirma que as estatísticas do OBVIO não diferem de maneira significativa
dos oficiais – estes deverão ser lançados até o fim de semana.
O coordenador do OBVIO, no entanto, avalia que
ter as facções criminosas como protagonistas da falta de segurança do
Rio Grande do Norte explicita a ineficácia do estado. “É preciso
analisar de modo mais profundo. O Governo é minimalista quando diz que a
causa da violência é o acirramento das facções. O problema está antes
disso. Está em deixá-los tomar o poder. Hoje, são as facções que mandam
onde o Estado é ausente, impondo muitas vezes a lei do silêncio. Isso
tudo aprofunda o problema das políticas públicas nessas áreas”, declara.
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