Mais de um ano depois da saída do governo que resolveu
financiar a ditadura dos irmãos Castro por meio da “importação” de
médicos daquele país, a situação dos profissionais cubanos no Brasil
continua indefinida. Segundo o Ministério da Saúde, quase 200 deles
entraram com ações na Justiça para ter o direito de ficar no país e
receber o salário integral que outros profissionais do programa Mais
Médicos recebem normalmente, de acordo com reportagem dos jornais O Globo e The New York Times.
Os cubanos, que são quase metade dos médicos do
programa lançado em 2013 e que busca levar atendimento a regiões às
quais os brasileiros não querem ir, vivem sob todo tipo de
arbitrariedade. Ramona Matos, a primeira médica cubana a fugir, em 2014,
já tinha informado as autoridades brasileiras que seus compatriotas não
podiam trazer a família para cá, ao contrário dos colegas de outros
países; e tinham seu direito de ir e vir cerceado, com vigilância firme
de agentes da ditadura cubana e necessidade de aviso até para ir a
alguma cidade diferente daquela para onde estavam designados. Tudo isso
foi confirmado posteriormente por outros médicos, inclusive aqueles
entrevistados recentemente pelos jornais carioca e novaiorquino.
Além disso, o contrato dos médicos cubanos é uma
violação flagrante a toda a legislação nacional, ao privar o
profissional de receber seu salário integral. Triangulações perversas
envolvem a Organização Pan-Americana de Saúde e o próprio governo
cubano, que embolsa parte do pagamento devido aos médicos, repassa outra
parte à família e entrega o resto ao profissional. Por muito tempo,
inexplicáveis cláusulas de confidencialidade mantiveram essa informação
distante do público.
“Chega uma hora em que você se cansa de ser escravo”, disse ao New York Times
Yaili Giménez, uma das médicas que recorreram à Justiça brasileira. A
rebelião dos cubanos que buscam trabalhar com liberdade no Brasil é um
ato de coragem, já que muitos ainda têm familiares em Cuba, agora
sujeitos às represálias do governo. Assim que surgiram as primeiras
decisões judiciais favoráveis aos cubanos, seus “supervisores”,
representantes da ditadura dos Castro no Brasil, convocaram todos os que
haviam buscado o Judiciário e os despediram, dando-lhes duas opções:
retornar a Cuba em 24 horas ou suportar oito anos de exílio, segundo o Times.
Diante disso tudo, é lamentável que o governo
brasileiro esteja fechando os olhos ao drama dos cubanos. O ministro da
Saúde, Ricardo Barros, disse ao New York Times
que “não há injustiça” porque “quando eles assinaram o contrato,
aceitaram as condições” – como se estivéssemos falando de pessoas
livres, e não de súditos da mais abjeta ditadura latino-americana.
Alegar que isso é problema dos médicos com o governo de seu país é uma
maneira muito conveniente de lavar as mãos enquanto se abandona
profissionais a quem tantos brasileiros são gratos. Se não podem contar
com o Executivo, os cubanos seguem recorrendo ao Judiciário, com
resultados inconsistentes – há decisões tanto favoráveis quanto
contrárias aos médicos. O desespero é tanto que pelo menos um dos
médicos pediu ao Ministério da Justiça para ficar no Brasil na condição
de refugiado. Ele ainda não recebeu resposta, mas não há dúvida de que
fugitivos da ditadura cubana bem merecem receber abrigo por aqui.
Ao contrário do governo anterior, a gestão atual não
tem nenhum motivo ideológico para continuar financiando uma ditadura
estrangeira e permitindo que os cubanos sejam tratados aqui de forma
diferente em comparação com colegas de outras nações. Que o Estado e a
sociedade possam encontrar meios de garantir a esses médicos a liberdade
de que não gozavam, seja em Cuba, seja sob a vigilância de capangas do
regime castrista no Brasil.
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