Moradores e comerciantes instalados em cidades onde agiram quadrilhas
especializadas em roubo a bancos têm percorrido distâncias cada vez maiores
para realizar um simples saque de dinheiro. Os bancos reabrem as agências, mas
evitam operação com numerários. Servidores públicos, aposentados e pensionistas
percorrem 30km ou até 50km para sacar valores que às vezes são inferiores à
despesa com o deslocamento. A população tem recorrido às prefeituras e câmaras
de vereadores para pressionar as instituições a restabelecer o serviço, mas sem
sucesso. Em alguns municípios, a limitação de serviços perdura por mais de um
ano.
Somente em 2017, já somam 53 cidades que tiveram
agências bancárias, dos Correios ou carro-forte, alvo de bandidos.
Extraoficialmente, fontes ouvidas pelas TRIBUNA DO NORTE informaram que o valor
médio para reabertura de uma agência bancária é de R$ 1 milhão. Um dos pontos
essenciais para reabertura é reforço da segurança local, o que deixa ainda mais
lento o processo para reabrir os locais.
A maioria das agências afetadas são do Bradesco e Banco do Brasil. Mas é
em relação ao Banco do Brasil a maior parte das reclamações porque a
instituição detém boa parte dos contratos de contas das prefeituras, câmaras de
vereadores e servidores estaduais. A instituição é um dos principais alvos
escolhidos pelas quadrilhas — até ontem eram 13 unidades, e 18 do Bradesco. Ao
todo, incluindo outras instituições do sistema financeiro de bancos, foram 53
casos de roubo este ano.
O Banco do Brasil que registrou roubos contra suas unidades em 20
municípios do Rio Grande do Norte. A reportagem procurou a instituição, que
admitiu 12 ocorrências este ano e dez em 2016, e informou que apenas cinco
agências estariam sem nenhum atendimento. A TRIBUNA DO NORTE conseguiu contato
com repartições públicas e estabelecimentos privados em 16 municípios, e em
todos eles confirmou que as agências do Banco do Brasil não disponibilizam
dinheiro para saque, seja no atendimento em terminais eletrônicos ou
personalizado. Através da assessoria de comunicação, o Banco do Brasil afirma
que prioriza reabrir as agências para atendimentos que não envolvam numerários,
pois a retomada de operações com dinheiro requer conclusão de licitações para
instalação de novos cofres e outros equipamentos.
Em algumas cidades, os bancos recuperaram os prédios, mas restringem o
serviço às demandas relativas a problemas burocráticos que não envolvam
transações em espécie. O dinheiro circula menos nessas cidades e causa efeitos
também no comércio. Os comerciantes com quem a reportagem conversou afirmam que
perdem vendas porque o consumidor acaba comprando naquele município ao qual se
deslocou para receber o salário.
Na maioria dessas cidades, consumidores e comerciantes usam outra
estratégia diante da ausência de dinheiro nos bancos: o cidadão vai ao
estabelecimento e solicita determinado valor em espécie ao comerciante; uma vez
aprovado o pedido, segue até o caixa eletrônico [nos locais onde foi
reinstalado] e transfere o respectivo valor à conta do comerciante. Após
apresentar o comprovante, recebe o dinheiro necessário ao pagamento de outras
despesas.
“Os bancos, mais uma vez, ganham dinheiro e deixam de oferecer o
serviço. Estamos indo cada vez mais longe para fazer um simples saque. Isso
porque aquele município vizinho onde até outro dia a gente recorria, também
acaba sendo atingido por essas explosões, e a gente tem que ir em outro mais
distante. Quem paga essa conta?”, questiona José Soares de Lima Barbosa,
servidor público na cidade de Lajes, região Central potiguar.
A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Sesed) foi procurada
para comentar sobre as ações de combate aos crimes, por meio da assessoria de
comunicação, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem.
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