domingo, 27 de agosto de 2017

Após ataques, bancos param saques

Moradores e comerciantes instalados em cidades onde agiram quadrilhas especializadas em roubo a bancos têm percorrido distâncias cada vez maiores para realizar um simples saque de dinheiro. Os bancos reabrem as agências, mas evitam operação com numerários. Servidores públicos, aposentados e pensionistas percorrem 30km ou até 50km para sacar valores que às vezes são inferiores à despesa com o deslocamento. A população tem recorrido às prefeituras e câmaras de vereadores para pressionar as instituições a restabelecer o serviço, mas sem sucesso. Em alguns municípios, a limitação de serviços perdura por mais de um ano. 
Somente em 2017, já somam 53 cidades que tiveram agências bancárias, dos Correios ou carro-forte, alvo de bandidos. Extraoficialmente, fontes ouvidas pelas TRIBUNA DO NORTE informaram que o valor médio para reabertura de uma agência bancária é de R$ 1 milhão. Um dos pontos essenciais para reabertura é reforço da segurança local, o que deixa ainda mais lento o processo para reabrir os locais.
A maioria das agências afetadas são do Bradesco e Banco do Brasil. Mas é em relação ao Banco do Brasil a maior parte das reclamações porque a instituição detém boa parte dos contratos de contas das prefeituras, câmaras de vereadores e servidores estaduais. A instituição é um dos principais alvos escolhidos pelas quadrilhas — até ontem eram 13 unidades, e 18 do Bradesco. Ao todo, incluindo outras instituições do sistema financeiro de bancos, foram 53 casos de roubo este ano.

O Banco do Brasil que registrou roubos contra suas unidades em 20 municípios do Rio Grande do Norte. A reportagem procurou a instituição, que admitiu 12 ocorrências este ano e dez em 2016, e informou que apenas cinco agências estariam sem nenhum atendimento. A TRIBUNA DO NORTE conseguiu contato com repartições públicas e estabelecimentos privados em 16 municípios, e em todos eles confirmou que as agências do Banco do Brasil não disponibilizam dinheiro para saque, seja no atendimento em terminais eletrônicos ou personalizado. Através da assessoria de comunicação, o Banco do Brasil afirma que prioriza reabrir as agências para atendimentos que não envolvam numerários, pois a retomada de operações com dinheiro requer conclusão de licitações para instalação de novos cofres e outros equipamentos.
Em algumas cidades, os bancos recuperaram os prédios, mas restringem o serviço às demandas relativas a problemas burocráticos que não envolvam transações em espécie. O dinheiro circula menos nessas cidades e causa efeitos também no comércio. Os comerciantes com quem a reportagem conversou afirmam que perdem vendas porque o consumidor acaba comprando naquele município ao qual se deslocou para receber o salário.
Na maioria dessas cidades, consumidores e comerciantes usam outra estratégia diante da ausência de dinheiro nos bancos: o cidadão vai ao estabelecimento e solicita determinado valor em espécie ao comerciante; uma vez aprovado o pedido, segue até o caixa eletrônico [nos locais onde foi reinstalado] e transfere o respectivo valor à conta do comerciante. Após apresentar o comprovante, recebe o dinheiro necessário ao pagamento de outras despesas.
“Os bancos, mais uma vez, ganham dinheiro e deixam de oferecer o serviço. Estamos indo cada vez mais longe para fazer um simples saque. Isso porque aquele município vizinho onde até outro dia a gente recorria, também acaba sendo atingido por essas explosões, e a gente tem que ir em outro mais distante. Quem paga essa conta?”, questiona José Soares de Lima Barbosa, servidor público na cidade de Lajes, região Central potiguar.
A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Sesed) foi procurada para comentar sobre as ações de combate aos crimes, por meio da assessoria de comunicação, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem.


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