O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
informou ter ocupado novas fazendas no país, com parte das manifestações
da Jornada Nacional de Lutas pela Reforma Agrária e contra as reformas
propostas pelo governo do presidente Michel Temer.
Na noite de ontem (25), integrantes do movimento
ocuparam uma área da Chapada do Apodi, no oeste do estado. A Polícia
Militar confirma a ocupação. Segundo o movimento, o Projeto do Perímetro
Irrigado Santa Cruz de Apodi é ligado ao ex-deputado e ex-ministro do
Turismo Henrique Eduardo Alves (PMDB). “Esse projeto é resultado de uma
articulação, do então Ministro da Integração Nacional, Henrique Alves,
junto à bancada ruralista e as multinacionais do agronegócio”, afirma o
movimento, em nota.
Henrique foi preso pela Polícia Federal em junho
deste ano na Operação Manus, suspeito de corrupção e lavagem de dinheiro
na construção da Arena das Dunas, em Natal. As fraudes somariam R$ 77
milhões. O deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) também é acusado de
participar do esquema.
Segundo o MST, o perímetro irrigado é conhecido como
“projeto da morte” e é palco de conflitos e protestos de camponeses
contrários ao processo de instalação do agronegócio na região desde
2012. O grupo pede que as terras desapropriadas pelo Departamento
Nacional de Obras contra a Seca (Denocs) para construção do perímetro
sejam destinadas à reforma agrária.
“De acordo com os vários estudos de impacto
ambiental, o Perímetro Irrigado Santa Cruz de Apodi não tem nenhuma
viabilidade técnica – pois a água existente só viabilizaria o projeto
por cinco anos; social – haja vista expropriar as famílias que já vivem
na região, representando o que se têm chamado de “reforma agrária ao
contrário””, ressaltou o MST.
Desde ontem (25), foram ocupadas, conforme o MST,
terras de pessoas acusadas, no cumprimento de função pública, de atos de
corrupção, como lavagem de dinheiro, favorecimento ilícito, estelionato
e outros. As manifestações ocorrem nos estados do Paraná, São Paulo,
Rio de Janeiro, Mato Grosso, Sergipe, Rio Grande do Norte, Piauí e
Maranhão.
Eike Batista
Os sem-terra ocuparam também na madrugada de hoje
(26), um complexo de fazendas com cerca de 700 hectares, em São Joaquim
de Bicas, próximo a comunidade Nazaré, região metropolitana de Belo
Horizonte. As terras fazem parte da empresa MMX, de Eike Batista.
Segundo o movimento, as terras encontram-se abandonadas após exploração mineral desordenada.
Desde 8 de março deste ano, 600 famílias, ocupam a
fazenda Santa Terezinha, no município de Itatiaiuçu, também do
empresário, acusado de corrupção e que está em prisão domiciliar.
Por meio da assessoria de imprensa, a Polícia Militar
de Minas Gerais confirma que recebeu um chamado sobre invasão de
propriedade no local. Segundo a PM, cerca de 80 pessoas estão no
complexo. A PM está no local e acompanha o movimento, que segue
pacífico. A Agência Brasil não conseguiu contato com a MMX.
Blairo Maggi
Uma das áreas que continua ocupada é a fazenda do
grupo Amaggi, em Mato Grosso, pertencente ao ministro da Agricultura,
Blairo Maggi. “Eu considero como uma atividade política que tem seu dia
para começar e seu dia para terminar”, comentou hoje Maggi. De acordo
com ele, a propriedade é produtiva e não tem motivo para ser
desapropriada.
Segundo a organização não governamental Repórter
Brasil, Maggi, tido como o rei da soja, foi denunciado em abril de 2009
pelo Ministério Público Federal (MPF) pelo crime de trabalho escravo.
Questionado sobre a denúncia, o ministro rebateu: “Não é na minha
[propriedade] que eles estão olhando”, diz, acrescentando que “existem
fiscalizações para isso, têm volantes do Ministério do Trabalho, todo
mundo olha. Se eu tivesse qualquer resquício desse tipo de coisa, eu não
estaria aqui, com certeza”.
Localizada a pouco mais de 20 quilômetros de
Rondonópolis, às margens da rodovia BR-163, a Fazenda SM02-B, ocupada
pelo MST, tem uma extensão de 479,7 hectares e é uma das mais antigas
unidades produtivas da Amaggi, com atividades desde a década de 1980.
Segundo a Amaggi, o departamento jurídico do grupo segue buscando os
meios legais para solucionar a situação.
Ricardo Teixeira
A Vara Única da Comarca de Piraí, no estado do Rio de
Janeiro, acolheu pedido de liminar dos advogados do ex-presidente da
Confederação Brasileira de Futebol (CBF) Ricardo Teixeira visando a
reintegração de posse da Fazenda Santa Rosa, ocupada no início da manhã
de ontem (25) por manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST). Com isso, integrantes do MST começaram a desocupar o
imóvel na manhã de hoje, após a realização de um último ato político.
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