A
Operação Cidade Luz, deflagrada pelo Ministério Público na manhã desta
segunda-feira (24), aponta que empresas de Pernambuco monopolizavam os
contratos de manutenção e decoração do parque de iluminação pública de Natal.
Segundo o MP, há indícios que mais de R$ 22 milhões foram
desviados da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur) decorrente do
superfaturamento e pagamento de propina para firmar contratos com as empresas
investigadas.
Dados da Controladoria Geral do Município de Natal
demonstram que entre os anos de 2013 e 2017, as empresas Alclog, Ancar,
Enertec, FGTech, Geosistemas, Lançar, Real Energy e Servlight, todas sediadas
em Pernambuco, foram beneficiárias de pagamentos no montante de R$
73.433.486,86 de contratos com a Semsur. O MPRN estima superfaturamento médio de
30% no valor dos contratos celebrados.
A investigação da Promotoria de Justiça de Defesa do
Patrimônio Público de Natal, que contou com o apoio do Grupo de Atuação
Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRN, desvendou que os
empresários Alberto Cardoso Correia do Rêgo Filho, Allan Emmanuel Ferreira da
Rocha, Epaminondas da Fonseca Ramos Júnior, Felipe Gonçalves de Castro, Jorge
Cavalcanti Mendonça e Silva, Maurício Custódio Guarabyra e Maurício Ricardo de
Moraes Guerra, associados em organização criminosa e fazendo uso das empresas
deles, monopolizam os contratos de serviços de iluminação pública da Semsur
pelo menos desde o ano de 2013 até os dias atuais mediante controle de mercado,
corrupção de agentes públicos, peculato, lavagem de capitais e fraudes nas
licitações e contratações diretas. Para o MP, eles integram o “núcleo
empresarial” da organização.
A apuração constatou que, além das empresas referidas, os
investigados também utilizam outras firmas na consecução das atividades da
organização criminosa, seja mediante a formação de consórcios, através de
empresas por eles próprios controladas, ou ainda utilizando-se de firmas que
participam das licitações e processos de contratação direta apenas para simular
a ocorrência de disputa. Algumas dessas empresas eventualmente são
subcontratadas para prestar os serviços licitados e vencidos pelo cartel. Os
investigadores descobriram também que a organização criminosa é integrada por
um “núcleo de lavagem de capitais”. Os integrantes desse núcleo são os
responsáveis pelo pagamento de propina a agentes públicos, seja em espécie ou
através da aquisição de veículos. Os agentes públicos integram o “núcleo
administrativo”, sendo recrutados para viabilizar contratações e pagamentos em
favor do esquema criminoso. O MPRN encontrou provas de que, ao assumirem o
comando da Semsur em janeiro de 2013, o ex-secretário Raniere Barbosa, o
secretário-adjunto, Sérgio Emerenciano, e o diretor do Departamento de
Iluminação Pública, Antônio Fernandes foram cooptados para o núcleo
administrativo da organização criminosa e passaram a atuar para assegurar a
presença do cartel no domínio dos contratos de serviços de iluminação pública
da Secretaria. Outras evidências apontam que, mesmo após ter deixado a
titularidade da Semsur em abril de 2015 para reassumir o mandato de vereador e
a liderança do prefeito na Câmara Municipal, Raniere Barbosa manteve o absoluto
controle político-administrativo da Secretaria. Segundo o apurado na
investigação, o presidente da Câmara Municipal manteve a equipe dele no comando
da pasta, formada por pessoas da sua estrita confiança, permanecendo assim com
ascendência direta sobre a Secretaria de Serviços Urbanos. Ele continuou
interferindo nas nomeações e exonerações, vetando inclusive a emissão de
pareceres pela assessoria jurídica da pasta. Outros agentes públicos, que
desempenharam ou ainda desempenham funções na Semsur, também foram incorporados
ao núcleo administrativo da organização criminosa, principalmente José Erasmo
dos Santos Júnior, Kelly Patrícia Montenegro Sampaio Alves, Romário Luan Araújo
de Lima, Valério Max de Freitas Melo e Walney Mendes Accioly. Walney, mesmo sem
ostentar nos 5 últimos anos vínculo formal com o órgão, elaborava documentos
internos da Secretaria. A investigação do MPRN demonstrou, ainda, que, mantendo
a estratégia de cooptação do comando da Semsur para núcleo administrativo, a
organização criminosa, antes mesmo da confirmação da mudança do titular da
pasta, já tinha iniciado, desde dezembro de 2016, o recrutamento do
ex-secretário Jerônimo da Câmara Ferreira de Melo. Ao assumir o cargo no início
de 2017, Jerônimo Melo colocou a serviço do grupo criminoso o próprio filho,
Daniel Fernandes Ferreira de Melo, e o chefe de Gabinete Airton Soares Costa
Neto. Jerônimo e Airton já deixaram os cargos que ocupavam na Secretaria de
Serviços Urbanos. A investigação realizada pelo Ministério Público do Rio
Grande do Norte teve início em 11 de março de 2015, data em que foi instaurado
um inquérito civil. Pelo apurado, as condutas dos participantes do esquema
criminoso caracterizam crimes como peculato, corrupção passiva, corrupção
ativa, pertinência a organização criminosa, lavagem de dinheiro, dispensa
indevida de licitação, fraude aos procedimentos licitatórios e formação de
cartel. Os elementos levantados na investigação igualmente demonstram que a
organização criminosa comete delitos de forma serial, atuando em diversos
municípios do Rio Grande do Norte, inclusive havendo indícios de pagamento de
propina a outros agentes públicos de algumas dessas cidades. Confira como era composta a organização criminosa,
segundo o MP.
Nenhum comentário :
Postar um comentário