Ao contrário do que alguns críticos e “experts” (muitos deles nunca entraram em uma cadeia) costumam dizer por aí em sites, TVs, rádios ou redes sociais, o problema do presídio de Alcaçuz nunca foi o local onde ele foi construído. De fato, a maior penitenciária do Estado é conhecida por suas fugas através de túneis. Mas, basta uma simples pesquisa no Google e você descobrirá que fuga por túneis é comum e frequente em boa parte dos presídios brasileiros.
Quem acompanha noticiário policial ou quem cobre a área de polícia, sabe que túneis são construídos em Alcaçuz, em Caicó, em Natal, em Mossoró, em Parnamirim e em centenas de cidades no Brasil e no mundo. Cabeça de preso funciona 24 horas com um único pensamento: sair de trás das grades. Eles fazem o que for preciso para conseguir, até mesmo colocar a vida em risco atravessando uma escavação improvisada que pode desabar a qualquer momento.
Portanto, o problema de Alcaçuz não é Alcaçuz. O problema é o mesmo de todo o Sistema Penitenciário brasileiro. Durante anos e anos, presídios foram tratados como “depósitos de lixo”.
Tanto os políticos quanto a própria sociedade nunca se importaram com o sistema penitenciário, nunca se importaram com a manutenção e desenvolvimento de ações que pudessem manter a ordem dentro das unidades.
A própria penitenciária de Alcaçuz é um exemplo disso. Em seu início, ela tinha projetos de ressocialização, como fábrica de bolas, hortas, padaria, fábrica de cartuchos, entre outros. Mas, o tempo foi passando e o Estado foi deixando o presídio de lado. Um a um os projetos foram morrendo e, em paralelo, o crime foi se organizando e as facções nascendo.
Está claro que o maior problema dos presídios brasileiros é o abandono do Estado. E terra sem dono é fácil de dominar. Não por acaso, as facções mandam e desmandam em Alcaçuz e na maioria das cadeias.
Presídio não é uma coisa bem vista pela própria sociedade. Presídios não são obras bonitas de se inaugurar. Presídios não atraem turistas. Ou seja, presídios não geram votos para os políticos.
Portanto, políticos nunca deram importância em manter projetos funcionando nas cadeias. Nunca se preocuparam em manter os prédios em perfeitas condições de uso. Nunca investiram grandes verbas em equipamentos de fiscalização e de segurança dentro dos presídios, porque isso não é visto pela população.
Citando ainda o exemplo de Alcaçuz, as mesmas fugas por túneis que são comentadas pelos “experts” poderiam ser evitadas ou diminuídas drasticamente se o senhor governador e os ex-governadores tivessem mantido sempre todas as guaritas funcionando, com iluminação adequada dentro e fora do presídio, se tivessem mantido efetivo suficiente de policiais fazendo patrulhamento nas áreas externas ou se não permitissem que apenas uma média de cinco agentes penitenciários tivessem que vigiar mil ou mais presos em um plantão.
Nenhum presídio do mundo consegue evitar que presos escavem túneis se as celas não forem vistoriadas com frequência, nem se os agentes penitenciários não tiverem condições de intervir dentro dos pavilhões por falta de segurança. Em Alcaçuz, por exemplo, são dois anos de presos fora das celas, porque o Estado não teve competência para reformar a unidade.
Então, aconselho aos “experts” de plantão que procurem conhecer melhor o funcionamento de um sistema prisional, pois o buraco é bem mais embaixo do que as escavações de túneis.
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