Agricultores também sofrem
com a seca e a pobreza em Paulistana.
Município ocupa posição de número 5.413 no ranking de desenvolvimento.
Município ocupa posição de número 5.413 no ranking de desenvolvimento.
Os agricultores do norte e
nordeste do Brasil ainda são os que mais sofrem com a falta de luz na
propriedade. Só no Piauí, 23 mil famílias ainda aguardam a instalação de
postes, fios, transformadores. No município de Paulistana, a situação se agrava
por causa da seca que já dura vários anos.
O caminho é de um só
visual, com a caatinga esturricada e a vegetação sedenta. Seja na literatura,
nas páginas de jornais e revistasPaulistana é um município sofredor do estado
Piauí. Os moradores sofrem com a seca e com a pobreza. A situação fica mais grave
quando o trabalho depende do que brota do chão. Dos 5.561 municípios do Brasil,
Paulistana ocupa a posição de número 5.413 no ranking de desenvolvimento. Na
zona rural, a renda per capita da cidade não passa dos R$ 96 por mês.
Sem dinheiro para comprar
ração e sem ter água para produzir alimento, o agricultor Augusto Lourenço
prepara a foice para derrubar os ramos mais altos da caatinga e ajudar as
ovelhas. “Não tem mais comida para dar e não alcança. O modo delas pegar a
folha por cima. Elas pega assim a base de meio metro para baixo. De um metro
para cima elas não pega mais. Eu tenho que ir com a foice ajudar a derrubar as
folhinhas para elas ter um modo de sobreviver”, diz.
A sobrevivência poderia
ser mais fácil se a energia elétrica fizesse parte do dia-a-dia do lugar. Essa
é principal luta do presidente do Conselho de Desenvolvimento Rural Sustentável
de Paulistana, Osvaldo Mamédio.
“Você que está de fora
acha que a seca é o problema. Mas, o que falta na verdade é tecnologia. Não tem
como chegar à tecnologia onde não tem energia. A tecnologia é usada para poder
bombear essa água, para chegar até as propriedades, para chegar até as
residências. Só para se ter ideia, uma forrageira elétrica para ajudar na
trituração da ração dos animais custa R$ 1,2 mil. Uma forrageira a combustão à
gasolina custa R$ 5 mil, a combustão à diesel sai R$ 10mil. Ainda tem um custo
mais alto que é da manutenção. Não é luxo. É uma necessidade para que tenha uma
vida com dignidade”, diz Costa.
A comunidade Umbuzeiro é a
mais carente do município de Paulistana. O único poço que atende o povoado foi
furado há 23 anos. A água sobe na força do braço. Cada pessoa chega do jeito
que dá: montado no jegue, na carroça e caminhando. Pelo lugar não se mede
esforço para buscar a água do poço que o agricultor Horácio de Souza ajudou a
cavar. “Na hora que eu estava cavando a água começou a minar. Foi uma alegria”,
lembra.
A situação se repete na
comunidade Abelha Branca, onde a prefeitura chegou a furar dois poços
artesianos no ano passado. Sem energia elétrica, na cidade também é preciso ter
força no braço para tirar a água de uma profundidade de 60 metros.
Por causa da distância,
tem agricultor que prefere levar os animais para beber água perto do poço. Esse
é o caso do João José da Costa, que percorre a distância de dois quilômetros
para chegar ao lugar. Na volta ao piquete, os animais recebem a silagem,
preparada com antecedência, já como alternativa para enfrentar os períodos de
seca.
Uma família que mora em
uma casa sem energia elétrica tem no cotidiano utensílios que para muitas
pessoas já viraram peças de museu. Para ter água fresca, por exemplo, o jeito é
conservar o líquido em potes de barro. Há também um liquidificador manual. Para
funcionar basta girar a manivela que o aparelho tritura tudo. O ferro de passar
roupa só esquenta com a brasa que vem do fogão à lenha. É preciso colocar os
paus no fogo para criar brasa para colocar no ferro. A agricultora Maria
Cremilda de Carvalho faz todos os dias esse serviço, principalmente para passar
as roupas que os filhos usam para ir à escola.
Na esperança de que essa
situação um dia mude, o agricultor José Possídio da Silva já garantiu o
ventilador para a hora que a energia chegar. “Cinco anos e nunca foi usado. A
gente dorme naquele calor porque não tem como usar”, diz.
ou até mesmo na televisão, o cenário da seca é
sempre impactante. A paisagem cinza, quase sem cor e aparentemente sem vida,
reflete as perdas na agricultura e na criação. A situação fica mais grave sem
energia elétrica.
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