Levantamento da
'Outsports', entidade americana que promove direitos de esportistas gays,
mostra que pelo menos 49 atletas assumidamente LGBT estão competindo na
Olimpíada. Entre eles, está a brasileira Rafaela Silva, medalha de ouro no
judô.
Tom Daley e Rafaela Silva são dois dos 49 atletas que assumiram a homossexualidade competindo nos Jogos do Rio |
Quando se fala em espírito
olímpico, logo se remete ao respeito entre as nações, e a cordialidade nas
disputas das mais diversas modalidades. No Rio, o espírito dos Jogos adquiriu
mais um significado: a garantia da diversidade sexual. Além das imagens dos
grandes momentos do esporte, esta edição da Olimpíada já entrou para História
como a de maior número de atletas assumidamente LGBT. São 49 competidores,
número levantado pela Outsports, uma entidade dos Estados Unidos especializada
na divulgação e no apoio para esportistas homossexuais e transexuais. A
contagem está sendo feita com o apoio do Comitê Desportivo LGBT do Brasil.
Antes da cerimônia de abertura, a entidade falava em 41 atletas, número que já
subiu e será totalizado após os Jogos. O primeiro dado já era maior que a
soma de LGBTs das últimas duas Olimpíadas. Em Pequim, 2008, eram 12 atletas,
número que aumentou para 23 em 2012. Uma das quase cinquenta atletas LGBT é a
judoca Rafaela Silva, que trouxe o primeiro ouro do Brasil nos Jogos.
Homossexual, ela disse que espera ver sua conquista inspirando outras mulheres
no esporte.
“Aos poucos a gente está
conseguindo conquistar o nosso espaço, e tem que aproveitar bastante isso,
porque a gente ficou muito tempo esquecida. E espero que outras mulheres tomem
outras iniciativas, que a gente tomou. Para seguir o legado, e crescer o
feminismo no Brasil”, afirmou a judoca.
Já a jogadora de rúgbi
Isadora Cerullo não ganhou medalha, mas foi protagonista de um dos momentos
mais emocionantes da Olimpíada. Ela achou que estava indo dar uma entrevista
ainda no campo do Complexo Esportivo de Deodoro. Mas foi surpreendida pelo pedido
de casamento de sua namorada, Marjorie Enya, aos olhos de todo o mundo. Segundo
ela, o Brasil celebra a diversidade neste período olímpico, mas ainda possui
muitas pessoas homofóbicas. Ela torce para que a celebração de seu amor inspire
a mudança de opinião deste grupo.
“Imagino que a primeira
reação deles foi se ofender, porque acham um absurdo uma pessoa gay ser feliz.
Mas eu espero que isso ajude a mudar a mente das pessoas, ao ver um casal só
vivendo o amor", torce a atleta.
A exaltação à diversidade
sexual, mais do que espontânea, foi um objetivo da organização dos Jogos do
Rio. Tanto que na cerimônia de abertura, a modelo transexual Lea T foi a
escolhida para desfilar a frente da delegação brasileira. À Globonews, ela
afirmou que não sente que fez história. Segundo ela, quem faz história são as
transexuais que tem de lidar com o preconceito.
"As outras, como eu,
estão vivendo todo dia, estão em situações bem piores que a minha, porque elas
morrem todos os dias, por violência, todas essas coisas que ainda existem nesse
país, elas podem mudar se todos nós fizermos a diferença", opinou a
modelo.
Longe do glamour do
Maracanã, o guarda municipal transexual Jhordan Lessa foi um dos escolhidos
para conduzir a tocha olímpica durante sua passagem por Nova Iguaçu. Depois de
ser alvo de diversos preconceitos em 18 anos de corporação, ele se sentiu
realizado ao participar da festa e, como homem transexual, ocupar um espaço que
até pouco tempo seria impossível na sociedade brasileira.
"É uma questão de
ocupar um espaço dentro da instituição e na própria festa. Porque nós somos
muitos, e estamos inseridos na sociedade em vários lugares e em vários espaços.
Alguns são reconhecidos, outros não... Alguns já tem o que chamamos de
‘passabilidade’, que é estar no meio do 'povão', e o 'povão' nem sabe quem
são”, contou o guarda.
Para o presidente do
Comitê Desportivo LGBT do Brasil, Érico dos Santos, os jogos do Rio realmente
são marcados pela diversidade, mas o país ainda precisa avançar muito no
assunto. De acordo com ele, há relatos de esportistas que abandonam suas
carreiras por medo do preconceito, que também aparece nos cantos entoados nas
arquibancadas dos estádios de futebol. Ele cobra que federações de esportes
brasileiros organizem campanhas e coíbam a ação de homofóbicos nas praças
esportivas.
"Hoje, nós temos no
Brasil muitos atletas que acabam abandonando o esporte, em virtude da sua
orientação sexual ou identidade de gênero. O Brasil deve fazer um trabalho
junto às federações, com o apoio do Comitê Olímpico Brasileiro, para que num
futuro próximo a gente tenha mais atletas LGBT, inclusive transexuais",
defendeu o presidente da entidade.
Além da presença dos
atletas LGBT, cariocas e turistas podem conhecer mais sobre a história de
homossexuais, transexuais e bissexuais nos Jogos Olímpicos na Pride House,
imitando o modelo das casas de hospitalidade dos países. Ela está localizada na
Lapa, região central do Rio. Até o fim dos Jogos, serão realizados atividades
recreativas, palestras e debates sobre a história LGBT no esporte e ações de
combate ao preconceito.
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