sábado, 13 de agosto de 2016

Jogos do Rio são o de maior número de atletas LGBT na História

Levantamento da 'Outsports', entidade americana que promove direitos de esportistas gays, mostra que pelo menos 49 atletas assumidamente LGBT estão competindo na Olimpíada. Entre eles, está a brasileira Rafaela Silva, medalha de ouro no judô.
Tom Daley e Rafaela Silva são dois dos 49 atletas que assumiram a homossexualidade competindo nos Jogos do Rio (Crédito: Divulgação)
Tom Daley e Rafaela Silva são dois dos 49 atletas que assumiram a homossexualidade competindo nos Jogos do Rio
Quando se fala em espírito olímpico, logo se remete ao respeito entre as nações, e a cordialidade nas disputas das mais diversas modalidades. No Rio, o espírito dos Jogos adquiriu mais um significado: a garantia da diversidade sexual. Além das imagens dos grandes momentos do esporte, esta edição da Olimpíada já entrou para História como a de maior número de atletas assumidamente LGBT. São 49 competidores, número levantado pela Outsports, uma entidade dos Estados Unidos especializada na divulgação e no apoio para esportistas homossexuais e transexuais. A contagem está sendo feita com o apoio do Comitê Desportivo LGBT do Brasil. Antes da cerimônia de abertura, a entidade falava em 41 atletas, número que já subiu e será totalizado após os Jogos.  O primeiro dado já era maior que a soma de LGBTs das últimas duas Olimpíadas. Em Pequim, 2008, eram 12 atletas, número que aumentou para 23 em 2012. Uma das quase cinquenta atletas LGBT é a judoca Rafaela Silva, que trouxe o primeiro ouro do Brasil nos Jogos. Homossexual, ela disse que espera ver sua conquista inspirando outras mulheres no esporte.
“Aos poucos a gente está conseguindo conquistar o nosso espaço, e tem que aproveitar bastante isso, porque a gente ficou muito tempo esquecida. E espero que outras mulheres tomem outras iniciativas, que a gente tomou. Para seguir o legado, e crescer o feminismo no Brasil”, afirmou a judoca. 
Já a jogadora de rúgbi Isadora Cerullo não ganhou medalha, mas foi protagonista de um dos momentos mais emocionantes da Olimpíada. Ela achou que estava indo dar uma entrevista ainda no campo do Complexo Esportivo de Deodoro. Mas foi surpreendida pelo pedido de casamento de sua namorada, Marjorie Enya, aos olhos de todo o mundo. Segundo ela, o Brasil celebra a diversidade neste período olímpico, mas ainda possui muitas pessoas homofóbicas. Ela torce para que a celebração de seu amor inspire a mudança de opinião deste grupo. 
“Imagino que a primeira reação deles foi se ofender, porque acham um absurdo uma pessoa gay ser feliz. Mas eu espero que isso ajude a mudar a mente das pessoas, ao ver um casal só vivendo o amor", torce a atleta. 
A exaltação à diversidade sexual, mais do que espontânea, foi um objetivo da organização dos Jogos do Rio. Tanto que na cerimônia de abertura, a modelo transexual Lea T foi a escolhida para desfilar a frente da delegação brasileira. À Globonews, ela afirmou que não sente que fez história. Segundo ela, quem faz história são as transexuais que tem de lidar com o preconceito. 
"As outras, como eu, estão vivendo todo dia, estão em situações bem piores que a minha, porque elas morrem todos os dias, por violência, todas essas coisas que ainda existem nesse país, elas podem mudar se todos nós fizermos a diferença", opinou a modelo. 
Longe do glamour do Maracanã, o guarda municipal transexual Jhordan Lessa foi um dos escolhidos para conduzir a tocha olímpica durante sua passagem por Nova Iguaçu. Depois de ser alvo de diversos preconceitos em 18 anos de corporação, ele se sentiu realizado ao participar da festa e, como homem transexual, ocupar um espaço que até pouco tempo seria impossível na sociedade brasileira. 
"É uma questão de ocupar um espaço dentro da instituição e na própria festa. Porque nós somos muitos, e estamos inseridos na sociedade em vários lugares e em vários espaços. Alguns são reconhecidos, outros não... Alguns já tem o que chamamos de ‘passabilidade’, que é estar no meio do 'povão', e o 'povão' nem sabe quem são”, contou o guarda. 
Para o presidente do Comitê Desportivo LGBT do Brasil, Érico dos Santos, os jogos do Rio realmente são marcados pela diversidade, mas o país ainda precisa avançar muito no assunto. De acordo com ele, há relatos de esportistas que abandonam suas carreiras por medo do preconceito, que também aparece nos cantos entoados nas arquibancadas dos estádios de futebol. Ele cobra que federações de esportes brasileiros organizem campanhas e coíbam a ação de homofóbicos nas praças esportivas. 
"Hoje, nós temos no Brasil muitos atletas que acabam abandonando o esporte, em virtude da sua orientação sexual ou identidade de gênero. O Brasil deve fazer um trabalho junto às federações, com o apoio do Comitê Olímpico Brasileiro, para que num futuro próximo a gente tenha mais atletas LGBT, inclusive transexuais", defendeu o presidente da entidade. 
Além da presença dos atletas LGBT, cariocas e turistas podem conhecer mais sobre a história de homossexuais, transexuais e bissexuais nos Jogos Olímpicos na Pride House, imitando o modelo das casas de hospitalidade dos países. Ela está localizada na Lapa, região central do Rio. Até o fim dos Jogos, serão realizados atividades recreativas, palestras e debates sobre a história LGBT no esporte e ações de combate ao preconceito. 


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