Fonte: Revista IstoÉ
Abelhas selvagens têm mais
chance de sofrer declínio populacional quando buscam alimentos em plantações
cujas sementes foram tratadas com inseticidas neonicotinoides, os mais
utilizados no mercado mundial. A conclusão é de um estudo britânico publicado nesta
terça-feira, 16, na revista científica Nature Communications.
O estudo utilizou dados de
levantamentos sobre 62 espécies de abelhas em plantações de colza do Reino
Unido, realizados ao longo de 18 anos, e ligou o declínio das populações de
abelhas no país à escalada do uso de pesticidas neonitocinoides nesse período.
Segundo os autores, o
estudo reforça as conclusões das pesquisas de pequena escala feitas até agora e
que identificaram os efeitos negativos dos neonicotinoides nas abelhas. Para
cinco espécies, a pesquisa concluiu que os neonitocinoides foram responsáveis
por pelo menos 20% das extinções locais.
O autor principal do
estudo, Ben Wookcock, do Centro de Ecologia e Hidrologia do Reino Unido,
afirmou, no entanto, que o uso desses pesticidas provavelmente não é a única
explicação para o declínio global das populações de abelhas.
“Embora tenhamos
descoberto evidências de que o uso de neonitocinoides é um fator fundamental
para o declínio das populações de abelhas, é improvável que eles estejam agindo
de forma isolada em relação a outras pressões ambientais.
Abelhas selvagens têm
sofrido declínio em escala global, que pode estar ligado também à perda e
fragmentação de hábitats, a doenças, às mudanças climáticas e outros
inseticidas”, disse Wookcock.
Diversos estudos já
apontavam que o uso desse tipo de inseticida pode ser nocivo para as abelhas,
mas a maior parte deles havia testado apenas os efeitos a curto prazo. O uso da
dos neonicotinoides foi parcialmente banido pela Comissão Europeia em 2013, com
o apoio da maior parte dos países da União Europeia. O Reino Unido votou contra
a proibição.
Os neonicotinoides foram
licenciados para uso como pesticidas no Reino Unido em 2002. Em 2011, o uso
dessa classe de pesticidas havia crescido 83% nas plantações britânicas de
colza. O grupo de cientistas examinou as mudanças na ocorrência das 62 espécies
de abelhas em plantações de colza da Inglaterra entre 1994 e 2011, período que
permitiu comparar a situação dos insetos antes e depois da introdução do uso
comercial do pesticida em larga escala.
Três vezes mais impacto
Segundo o estudo, o
declínio das populações de abelhas foi três vezes maior entre as espécies que
se alimentam regularmente da colza – como a Bombus terrestris, conhecida no
Brasil como mamangaba – em comparação com as espécies que buscam alimento em
plantas florestais. De acordo com os autores, isso indica que a colza tem um
papel importante para a exposição das abelhas aos neonicotinoides.
Os pesticidas
neonicotinoides podem ser aplicados diretamente às sementes antes da plantação.
O composto ativo se expressa de forma sistêmica ao longo do crescimento da
planta, o que faz com que ele possa ser ingerido pelos insetos quando eles se
alimentam do néctar e do pólen das plantas que receberam o pesticida.
“Por produzir flores, a
colza é uma planta benéfica para insetos polinizadores. Esse benefício no
entanto, parece se mais que anulado pelo efeito das sementes tratadas com
neonicotinoides para uma ampla gama de abelhas selvagens”, afirmou Wookcock.
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