Em algumas provas, uma
simples esticada de pescoço resolvia; em outras, foi necessário erguer o corpo
e se esticar; nos casos mais graves, o jeito foi sair do lugar e procurar outra
cadeira vazia no mesmo setor. No primeiro dia da natação da Rio-2016, um grupo
de torcedores se mexeu como se fossem atletas. No caso deles, contudo, a
modalidade não tinha nada a ver com água: a disputa ali era apenas para fugir
das colunas que comprometeram a visibilidade no Estádio Aquático Olímpico, no
Parque Olímpico da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
O professor Márcio Benfica
e a advogada Janaína Ramos compraram entradas para cadeiras posicionadas atrás
de uma das colunas. Cada um desembolsou R$ 260 pelo ingresso – a sessão noturna
de sábado (06) na natação foi o único evento para o qual eles compraram
ingresso no Parque Olímpico da Barra da Tijuca.
Em outra área do estádio,
também atrás de uma coluna, os professores Renato Inácio e Simone Gaião tiveram
de fazer uma espécie de ginástica. Eles também compraram ingressos para uma das
áreas com visão parcial, mas se aproveitaram do fato de o estádio não estar
lotado. Dependendo da prova, os dois se deslocavam pela arena e buscavam um
ponto com mais visibilidade.
“A gente não sabia. Não
foi nada agradável”, contou Simone. “A gente fica fazendo um mix de lugares,
aproveitando que há várias cadeiras vagas aqui e ali”, adicionou Renato. Cada
um deles pagou R$ 100 pela entrada para ver a natação.
Construído com estrutura
temporária para os Jogos – o local vai ser transformado em dois parques
aquáticos depois –, o estádio foi projetado para comportar 18 mil espectadores.
A versão inicial passou por uma revisão para que o custo fosse reduzido, e isso
alterou a ideia para o teto. Quatro colunas gigantes foram instaladas nas
extremidades da arena, e essas estruturas que sustentam a cobertura
comprometeram a visão de muitos lugares – 7,8% do total, segundo o comitê
organizador, ou até 30%, de acordo com a Fina (Federação Internacional de
Esportes Aquáticos).
Os pontos cegos foram
motivo de atrito entre comitê organizador e Fina, que criticou o tamanho do
estádio. Sobretudo por questões financeiras – o bloqueio dos setores com visão
comprometida geraria um prejuízo de pelo menos R$ 10,6 milhões ao caixa da
Rio-2016, valor calculado a partir da diferença entre as entradas colocadas à
venda e o potencial total de arrecadação da arena.
No fim de julho, o comitê
organizador começou a vender ingressos para esses setores atrás das colunas. As
áreas foram classificadas como “visão parcial”, e as entradas para esses locais
tiveram descontos – custaram de R$ 80 a R$ 100 em sessões que tinham tíquetes
de até R$ 350 nas áreas centrais.
Desde o início das vendas,
segundo o comitê organizador, as sessões da natação estiveram entre os eventos
mais buscados da Rio-2016. Contudo, foi possível ver muitos espaços não
preenchidos na primeira noite de provas – e não apenas nas áreas que ficam
atrás de colunas.
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