Lá
na casa de seu Amaro, feijão mulatinho ou mesmo o carioca virou comida de luxo.
Cinco pessoas viviam de conchas generosas e repetecos. Acabou-se a fartura.
“Agora a gente bota para cozinhar cem gramas e divide o caldo por todo mundo”,
disse, contando que a iguaria brasileira consta no cardápio da casa dele, no
município de Escada, em apenas duas vezes na semana. “Não é brincadeira. Era R$
6 e foi para R$ 15 na minha cidade”. Feirante há 20 anos, Amaro Pereira tem uma
banca instalada na rua dos fundos do Mercado de São José, Centro do Recife, e
também ouve reclamações de consumidores. Ele vende feijão verde de quinta-feira
a sábado. Comercializado a R$ 10 o quilo, é o item mais caro. Quem vai à feira
livre ou ao supermercado tem ficado chocado com o valor cobrado por um quilo do
meu, do seu, do feijão nosso de cada dia. Variando de acordo com a localidade,
no Recife tem quilo de feijão vendido a R$ 14,00.
Feijão
até pouco tempo era salvaguarda. Ocupava lugar do alimento inacessível e preenchia
o prato do trabalhador. Agora os preços do feijão têm dado aquela sensação de
que, se o Brasil estava ruim, piorou. Nos arredores de seu Amaro, dona Silvana
da Conceição Carneiro precisou adaptar o prato que serve no restaurante em que
trabalha, o Casa do Arrumadinho.
“Tive
de reduzir a porção e colocar mais arroz, macarrão e purê para compensar e
manter o preço da refeição”. Cobra R$ 8,00 por um “prato feito”. O preço do
prato na vizinhança é tabelado, então aumentar R$ 1 ou mais não seria boa opção
porque haveria risco de perda de clientela. Se não diminuísse a porção, diz,
ficaria inviável porque o restaurante precisa de 12 quilos de feijão em média
para atender à demanda diária. Antes, lembra dona Silvana, gastava R$ 7,00 por
um quilo. “Aí esta semana comprei a R$ 12,00. Comprava em grosso num atacadão
bem longe, mas não vale mais a pena. Arrumei um fornecedor aqui perto do
Mercado de São José e compro por dia por esse preço mesmo”. Na Casa do
Arrumadinho, querendo comer mais feijão, o cliente precisa pagar uma porção
extra, como quiser o freguês (porção de R$ 2, de R$ 3, R$ 4...). Dona Silvana
teme que o preço suba ainda mais: “O revendedor avisou que vai chegar a R$
25,00 o quilo”.
Dona
Silvana diz que a “coisa está tão séria” que o feijão fez festa na internet.
Referia-se à inspiração para memes na web, fenômeno que ao pé da letra
significa imitação em grego e que tem como objetivo facilitar a viralização de
uma informação. Uns brincam dizendo que o quilo está tão caro que feijão passou
a ser transportado por carro-forte; outros sugerem que de tão valioso o feijão
pode ser dado em caixinhas de joias no Dia dos Namorados. Qual será o teto do
preço do feijão é difícil prever, mas a escalada continua, creem técnicos do
Instituto Brasileiro de Feijão (Unifeijão). Segundo avaliam, a elevação dos
preços tem relação direta com mudanças climáticas que prejudicaram produtores
do Centro-Oeste e do Norte de Minas Gerais.
A
causa não é algo que chegue até os ouvidos das donas de casa. Para elas, que em
sua grande maioria cuidam das compras domésticas e fazem comparativos, o feijão
está inserido dentro da crise econômica e política do Brasil. Esta semana, a
dona de casa Zezita Aguiar voltou das compras feitas em um supermercado do
bairro de Casa Forte impressionada com o quilo do grão, que chegava aos R$
12,00. A constatação dela foi repassada para amigas até que uma outra dona de
casa, Ana Cunha, fez o desabado: “Achei que a crise nunca chegaria ao feijão”.
Não só chegou como vem mudando o hábito de compras e alimentação do brasileiro.
Por Sílvia Bessa
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