Um dos 23 motoristas de ônibus do Paraguai que protestam crucificados contra demissões em Assunção
Ser crucificado se tornou uma
modalidade extrema de protesto por direitos trabalhistas no Paraguai, onde 25
trabalhadores de diferentes setores já estão há mais de um mês cravados em
pedaços de madeira na Grande Assunção, como forma de apresentar suas
reivindicações ao governo. No centro da capital, em uma barraca de plástico instalada na calçada na porta
do Ministério do Trabalho, 11 pessoas estão presas individualmente com pregos
de mais de um palmo de comprimento em suas mãos. Ao lado deles, outras quatro
pessoas protestam com as bocas tapadas por grossos pregos curvos, que lhes
rasgam os lábios e impedem de falar e comer alimentos sólidos. A maioria é motorista de uma empresa de ônibus que há 37 dias demitiu 51
trabalhadores, quando eles notificaram à diretoria que tinham criado um
sindicato. A eles se somam outros sete trabalhadores que permanecem
crucificados a 15 quilômetros, em um ponto de ônibus entre as cidades de Limpio
e Luque, onde se originou o protesto.
Os companheiros dos crucificados na porta do Ministério do Trabalho se empenham
em atender suas necessidades, dando comida e, às vezes, até cigarros. Eles
também pedem dinheiro aos veículos que passam, já que os motoristas em protesto
estão há mais de um mês sem receber o salário.
A dor provocada pelos braços permanentemente esticados durante tantos dias, o
risco de infecção nos ferimentos, as dificuldades para se limpar e o intenso
calor que, em pleno inverno, tem temperaturas acima dos 30 graus em Assunção
não são obstáculos para que eles tenham decidido "seguir até o
final".
Miguel Garcete, um dos motoristas demitidos e agora crucificado, disse à
Agência Efe que esse sacrifício é um passo a mais em sua luta para "exigir
que o Ministério do Trabalho reconheça legalmente o sindicato e para que a
empresa readmita os 51 despedidos".
O fervor religioso é uma das razões que levam os trabalhadores a optar pela
crucificação como símbolo de protesto, uma escolha feita também por outro grupo
de operários que está crucificado em Assunção: o dos ex-funcionários da Usina
Hidrelétrica de Itaipu.
Neste caso são sete, seis deles ex-funcionários e Rosa Cáceres, a esposa de um
deles. Dos seis, cinco se prenderam em 30 de junho pela segunda vez em seis
meses. No final de janeiro, eles interromperam o protesto depois de mais de 50
dias crucificados e ao chegar a um acordo com o governo. Os outros dois
aderiram em 7 de julho.
Eles permanecem em uma tenda na frente da embaixada do Brasil, país que
compartilha a represa de Itaipu com o Paraguai, e exigem o pagamento de
direitos trabalhistas retroativos por um convênio assinado entre os governos de
ambos os países.
Além da dor física, os manifestantes sofrem com a distância de seus lugares de
origem e suas famílias, já que muitos procedem de cidades próximas à usina,
como Hernandarias e Ciudad del Este. Muitos deles são idosos e apresentam
problemas de saúde, como lembrou à Efe Carlos González, representante da
Coordenadoria de Ex-Trabalhadores de Itaipu e Contratistas.
Todos os crucificados da Grande Assunção dizem ter na fé católica uma de suas
maiores fortalezas, e alguns intercalam gritos de palavras de ordem com
orações. As preces são feitas na esperança de que o grito seja escutado não só
por santos, mas também por governantes. |
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