quinta-feira, 6 de agosto de 2015

'Não sinto nada', diz carrasco paquistanês que já executou mais de 200

No ano passado, um dia depois de o premiê paquistanês, Nawaz Sharif, anunciar o fim da moratória de sete anos nas execuções no país, paparazzi cercaram a casa de Sabir Masih na cidade de Lahore.
O carrasco, de 32 anos, já havia dado entrevistas antes e nunca teve problemas em compartilhar suas opiniões sobre a retomada de execuções em seu país. Mas nesse dia, ele estava sem tempo.
"Eu tinha que chegar a Faisalabad na noite de 18 de dezembro porque havia dois presos que seriam executados na manhã seguinte", conta.
Então, ele colocou algumas coisas em uma bolsa e se vestiu com as roupas de sua irmã de 17 anos, cobrindo o rosto com um véu. Passou diante de várias equipes de TV para chegar ao ponto de ônibus.
Nesse momento, a cerca de 170 quilômetros dali, em Faisalabad, autoridades estavam transportando os presos.
E não eram presos comuns.
Mohammad Ageel havia liderado um ataque a um quartel-general do Exército em Rawalpindi, em 2009, matando 200 pessoas.




Arshad Mehmood havia sido condenado por uma tentativa de assassinato, em 2003, contra o então presidente Pervez Musharraf.
Ambos eram ex-soldados e membros de redes de militantes extremistas locais.
8 mil condenados
Masih teve de mostrar várias vezes sua carteira de carrasco oficial para passar pelos pontos de controle na estrada, que foram armados pelas forças de segurança para evitar atos de vingança por parte dos militantes.
No dia seguinte, Ageel e Mehmood se transformaram nos primeiros homens a serem executados no Paquistão em sete anos - e o carrasco de ambos foi Masih.
No Paquistão, há 8 mil pessoas no corredor da morte - mais do que em qualquer outro país do mundo. Desde dezembro, cerca de 200 foram executados, alguns por atos terroristas, outros por assassinato.
Desde que a pena de morte foi restabelecida, Masih diz que já executou cerca de 60 pessoas em diversas prisões na Província de Punjab.
No total, ele calcula que tenha executado mais de 200 desde 2007 - e conta isso sem o menor sinal de arrependimento ou incômodo, seja em sua expressão facial ou nos seus gestos.
O motivo disso talvez seja o fato de ele pertencer a uma família de carrascos. Como a maioria dos carrascos desde os tempos da dominação britânica, Masih é cristão.
Seus olhos são fundos, seus dentes são amarelados de tanto mascar tabaco e ele gagueja um pouco ao falar. Mas é uma pessoa esbelta e de traços faciais marcantes.
"Executar é a profissão da minha família. Meu pai era carrasco. Seu pai também era carrasco, assim como o pai dele e o avô, desde os tempos da Companhia Britânica das Índias Orientais (antiga empresa britânica de comércio com a Índia)."
Talvez seu antepassado mais famoso seja o irmão de seu avô, Tara Masih, que executou o premiê Zulfikar Ali Bhutto, em 1979.
"Não sinto nada"
Com esse histórico familiar, Sabir Masih é sempre questionado sobre como consegue dormir na noite anterior a uma execução ou se tem pesadelos depois. Também responde a perguntas sobre como se sentiu quando executou sua primeira vítima ou sobre como seu trabalho é visto por amigos e familiares.
"Eu não sinto nada. É uma tradição familiar. Meu pai me ensinou como fazer o nó do enforcado e me levou com ele para presenciar algumas execuções quando eu estava para ser contratado."
Sua primeira execução foi em 2007. "Só fiquei nervoso para fazer um bom nó. Mas o vice-diretor da prisão me deixou treinar antes. E quando o carcereiro me deu um sinal com a mão, me concentrei e não vi o condenado cair."
E isso é o que ainda acontece hoje em dia, tantos anos depois.
São lidas as acusações que pesam contra o prisioneiro condenado, o autorizam a se lavar e a rezar se quiser. Logo ele é levado ao pátio.
"Minha única preocupação é prepará-lo ao menos três minutos antes do momento da execução. Eu tiro os sapatos dele, coloco um capuz sobre sua cabeça, prendo seus pés e suas mãos, coloco a corda ao redor de seu pescoço, me certifico de que o nó está debaixo de sua orelha esquerda e logo espero o sinal do carcereiro para puxar a alavanca."
No Paquistão, os carrascos não têm acompanhamento psicológico nem antes nem depois das execuções. Também não há um limite máximo de execuções até que eles possam descansar.
E Masih diz que ele não precisa de nada disso.



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