Especialistas explicam que sentimento de que todo mundo apoiou campanha é resultado do algoritmo da rede social
Pode ser surpreendente, mas
a enxurrada de fotos cobertas com as cores do arco-íris – que tomou conta da timeline de muita gente nos últimos dias e
quefoi assunto em jornais e revistas de todo o mundo – é resultado da
atividade de menos de 2% dos usuários ativos do Facebook. De acordo com dados
divulgados pela rede social, 26 milhões de usuários usaram o
aplicativo que modificava automaticamente a foto de seus perfis, número que
representa 1,8% das 1,4 bilhão de
pessoas que entram pelo menos uma vez por mês no site (a
empresa não divulga os números específicos do Brasil). Mas como se explica o
sentimento de "todo mundo trocou a foto" que foi vigente no fim da
semana passada?
Parte dessa explicação está
na forma como funcionam os algoritmos criados por Mark Zuckerberg e sua equipe.
A linha do tempo de todos os usuários é baseada em diversas premissas
prestabelecidas pelo próprio Facebook – elas têm a ver com proximidade física,
curtidas, amigos, assuntos preferidos e mais uma série de fatores, que podem
enfatizar ou esconder postagens de certas pessoas ou sobre certos assuntos da
sua rede social. A resposta de especialistas para a pergunta do parágrafo
anterior, portanto, é: o mundo é maior que o teu quarto.
– O que responde a essa
dúvida é a política de entrega de dados do Facebook. Ela usa uma escala que
evidencia na sua timeline o que é mais próximo de você, e o algoritmo consegue
ver o comportanto das pessoas de maneira muito precisa. Em resumo, enxergamos o
mundo mais ou menos colorido dependendo do que as pessoas mais próximas da
gente falam – explica Fábio Goveia, coordenador do Laboratório de Estudos sobre
Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
Outro fator que ajuda a
explicar a sensação de onipresença das fotos com arco-íris para algumas pessoas
é a escala de relevância que certas atividades têm dentro do Facebook: mudar a
foto do perfil é uma das ações mais relevantes – se não a mais relevante – que
um usuário pode praticar na rede social, explica a pesquisadora e professora da
Universidade Católica de Pelotas Raquel Recuero. Muito mais do que publicar uma
foto, um texto ou compartilhar um link na sua timeline, mudar a foto de perfil
é valorizado "horrores" pela rede social, nas palavras da
especialista. Some-se a isso o fato de imagens com motivos solidários ganharem
mais curtidas e comentários do que o normal – no caso das fotos com
arco-íris, foram mais de 565 milhões de interações – e chega-se a uma possível
explicação para o tsunami colorido. Nesse sentido, avalia Raquel, cobrir o
rosto com um filtro de arco-íris pode ser considerado importante enquanto
ativismo:
A foto de perfil é
pública por excelência, diferente de qualquer outro conteúdo. Mesmo quando
todos os conteúdos são bloqueados, normalmente a foto de perfil ainda é
visível. Nessa causa específica, o fato de as pessoas tomarem partido com essa
foto é muito significativo, não se pode menosprezar – avalia.
Ação para entender a cabeça
do usuário
No domingo, um estudioso do
Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) brincou em
seu Facebook que aquilo era "provavelmente um experimento" de
Zuckerberg, como já havia acontecido anteriormente – a rede social foi alvo de
muitas críticas em meados do ano passado, quando admitiu ter manipulado a linha
do tempo de usuários aleatórios para rastrear como publicações mais felizes ou
mais tristes faziam com que os usuários que as lessem ficassem mais felizes ou
mais tristes. William Nevius, um porta-voz do Facebook, disse à revista The
Atlantic que dessa vez isso não acontecera.
– Todo mundo está vendo a
mesma coisa – garantiu Nevius.
Ainda assim, é improvável
pensar que a empresa não utilize todos os dados coletados nessa incrível ação
de massa para entender ainda mais como funcionam seus usuários.
Fonte; Zero Hora
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