Para receber os condenados do mensalão, o governo
de Brasília reformou uma ala inteira da Papuda. As “celas especiais”
ganharam textura nas paredes, piso novo, banheiro com chuveiro elétrico,
privada, iluminação artificial, colchões novos e pontos para a
instalação de aparelhos eletrodomésticos.
Quando
o Supremo Tribunal Federal (STF) condenou os mensaleiros petistas à
cadeia, o ministro Dias Toffoli criticou a punição, comparando-a com o
que ocorria no período da Inquisição. O ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, seguiu a mesma linha e disse que preferia morrer a
expiar seus pecados atrás das grades no Brasil. A solidariedade aos
companheiros corruptos não impediu que José Dirceu, Delúbio Soares e
José Genoino passassem uma temporada de menos de um ano no presídio da
Papuda, em Brasília. Na semana passada, um tribunal italiano suspendeu a
extradição de Henrique Pizzolato, ex-diretor de marketing do Banco
do Brasil foragido do país depois de ser condenado a doze anos e sete
meses de prisão no mesmo processo do mensalão.
Numa tentativa de
continuar na Itália, Pizzolato repetiu Cardozo e afirmou que prefere
morrer a enfrentar as agruras da cadeia brasileira. Um exagero. Como a
antiga cúpula do PT bem sabe, as prisões são superlotadas e desumanas -
mas essas condições valem para ladrões de galinha ou criminosos que não
podem pagar advogados renomados nem têm amigos poderosos na cúpula do
poder. Não é o caso de Pizzolato.
Localizado a cerca de 20 quilômetros da Praça dos Três Poderes, o
presídio da Papuda abriga 13 400 presos, o dobro da capacidade
considerada adequada. A grande maioria toma banho gelado de caneca e
dorme num chão de cimento úmido, muitas vezes ladeado por esgoto. Essa é
a regra. Mas a regra sempre tem exceção - e ela brinda justamente os
alvos da solidariedade de Toffoli e Cardozo. Em 2013, quando os
mensaleiros mais célebres já haviam sido sentenciados à prisão, o então
governador do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz, começou a
reformar em sigilo uma das alas da Papuda. O objetivo era garantir
conforto aos colegas de partido. As antigas celas, com camas de cimento,
foram demolidas e deram lugar a espaços amplos com camas de aço e
colchões novos. As paredes ganharam textura branca, tomadas elétricas e
iluminação fluorescente. Os banheiros coletivos receberam paredes e
porta de madeira. A torneira que servia de ducha deu lugar ao chuveiro
quente. A latrina rente ao solo, conhecida como boi, foi substituída
pelo vaso sanitário de porcelana.
Tudo corria conforme o planejado, até que o Ministério Público do
Distrito Federal descobriu a obra em uma inspeção de rotina.
Beneficiários de mais um privilégio, os mensaleiros tiveram de ser
transferidos para outras alas da Papuda, e o espaço reformado acabou
destinado formalmente a presos considerados vulneráveis por terem
condição de saúde debilitada ou serem considerados alvo de eventuais
rebeliões. Com dez celas e capacidade para sessenta presos, o puxadinho
de Agnelo recebeu apenas cinco detentos desde que ficou pronto, todos
corruptos conhecidos nacionalmente, como o empresário Luiz Estevão, o
primeiro senador cassado pelos colegas na história do país. Pizzolato,
como se vê, não precisa se preocupar tanto. Ele tem bons amigos e
grandes segredos guardados. Se souber usá-los, certamente escapará da
realidade medieval que tanto o aterroriza. O Ministério Público
considera real a possibilidade de o mensaleiro ser instalado na ala
nobre da Papuda. O promotor Marcelo Teixeira quer que outros presos
ocupem as vagas disponíveis. Resta a Justiça fazer a sua parte.
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