domingo, 17 de maio de 2015

Filme mostra as diferentes formas de brincar em diversas regiões do país

A pista de tampinhas criada pelos meninos da comunidade de Acupe, no Recôncavo Baiano, as brincadeiras da queixada e do tucunaré das crianças da terra indígena Panará, no Pará, a cantiga da Lagarta Pintada, cantada pelas meninas no litoral de Tatajuba, no Ceará, se juntam aos carrinhos e às tradicionais brincadeiras de bonecas. O universo lúdico infantil de Norte a Sul do país é tema do documentário Território do Brincar, que tem pré-estreia no dia 20 de maio na Ciranda de Filmes, mostra de cinema com foco na infância e na educação. A estreia oficial será no dia 28 de maio em São Paulo e no Rio de Janeiro e no dia 4 de junho em Porto Alegre, Curitiba, Brasília, Florianópolis, Belo Horizonte, Salvador, João Pessoa e Santos.
O longa-metragem faz parte do Projeto Território do Brincar, uma parceria com o Instituto Alana, que mapeou, entre abril de 2012 e dezembro de 2013, as muitas formas de brincar em comunidades rurais, indígenas, quilombolas, das grandes metrópoles, do sertão e do litoral. Além do filme, a iniciativa conta com exposição itinerante, duas séries infantis para a TV e um livro em produção.

A educadora Renata Meirelles, coordenadora do projeto, conta que uma das propostas é aproximar o adulto do universo infantil. “Quando a gente opta olhar o brincar, a gente opta por trazer o que há de mais belo e potente na infância. Com o filme, a gente quer aproximar as pessoas do que há de mais potente no ser humano e relembrar isso para os adultos”.
Outra ideia do projeto, diz Renata, é mostrar a diversidade do Brasil a partir das crianças. “O que a gente gostaria com esse filme e com o projeto em geral é espelhar a beleza que somos como país e como pessoas. A importância do filme é a escuta da criança para que ela nos espelhe tudo isso”, disse a educadora, que fez o filme em parceria com o marido, o documentarista David Reeks.
Para a coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Simbolismo, Infância e Desenvolvimento, Adriana Friedmann, brincar é essencial na vida de qualquer criança desde que nasce. “Além de ser um fenômeno que é da natureza de qualquer ser humano, é uma das linguagens espontâneas através das quais a criança se expressa, descobre o mundo, as pessoas e os objetos à sua volta, aprende e incorpora valores, e as singularidades das diferentes culturas com as quais se conecta”, disse.
Segundo a pedagoga, a brincadeira tem o potencial de promover o desenvolvimento integral das crianças nos aspectos físico, emocional, social e cognitivo. “No ato de brincar, a criança está absolutamente mergulhada em um espaço sagrado, conectada profundamente com o presente de forma orgânica, corpo, sensações, emoções e todos seus sentidos participam destes processos. Brincar é a possibilidade de viver a fantasia, a imaginação, imitar o mundo adulto, o mundo animal e a natureza. Brincando as crianças são desafiadas a se superarem, a descobrirem. Brincar é a forma de as crianças fazerem poesia e nos contarem quem são, o que sentem, o que vivem, seus medos, suas preferências, seus potenciais e suas limitações.”
O professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Lúcio Teles acredita que os pais devem evitar o uso excessivo de brinquedos eletrônicos e joguinhos em tablets e celulares. “Hoje, a criança tende a ficar muito em casa, sempre conectada, pode ter problemas de obesidade e se tornar mais arredia, tímida, porque não sabe vivenciar a experiência social da brincadeira. Isso é um desafio [para as famílias]. A internet brasileira é muito poluída com vídeos e informações que não são adequadas para crianças, com mensagens de ódio e racismo. Se a criança não tiver uma boa orientação dos pais, ela tende a ver isso como normal”, destacou o educador.
Uma das saídas apontadas por Adriana Friedmann para o resgate do brincar nos centros urbanos é que a família desperte a memória e a vontade de ensinar e brincar com as crianças as cantigas, histórias e os jogos que aprenderam na sua própria infância. “Um mundo lúdico se abre em cada núcleo familiar. Quando a criança vai para o coletivo, para a escola, os educadores passam a ter esse papel de resgatar brincadeiras tradicionais populares e convidar cada criança a trazer as das suas famílias”, completou.

Nenhum comentário :

Postar um comentário