No manifesto “50 anos da TV Globo: vamos
descomemorar!”, entidades repudiam o autoritarismo da linha editorial da
emissora, além de denunciar em suspeitos casos de corrupção e sonegação fiscal.
No próximo dia 26, a rede Globo de
Televisão completa 50 anos de existência. A data mobilizou diversas
organizações e movimentos sociais para atos e debates públicos que irão
“descomemorar” o aniversário da emissora - símbolo do monopólio midiático no Brasil.
Em pelo menos três capitais
(São Paulo, Porto Alegre e Brasília), estão marcados protestos de rua. No
manifesto “50 anos da TV Globo: vamos descomemorar!”, entidades como o
Intervozes, o Fórum Nacional Pela Democratização da Comunicação (FNDC), o Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Central única dos Trabalhadores
(CUT), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), dentre outras, afirmam o
repúdio ao autoritarismo da linha editorial da emissora, além de denunciar em
suspeitos casos de corrupção e sonegação fiscal.
“Sem enfrentar o poder e
colocar limites à maior emissora do Brasil – e uma das cinco maiores do mundo –
não será possível garantir a regulamentação dos artigos da Constituição que
proíbem o monopólio para levar a cabo a democratização do país”, completam.
Em São Paulo, a manifestação está
programada para este domingo, às 15h, com concentração na Praça General Gentil
Falcão. Na mesma data, Brasília concentra
seu ato em frente à Globo, às 13h e, além das manifestações políticas, está
programado um samba com músicas que questionam o monopólio da Globo e o seu
apoio à Ditadura Civil-Militar. Já em Porto Alegre, o protesto “Fora Globo/RBS” A
festa acabou: 50 anos de mentira!” está marcado para às 14h, com
concentração no Arco da Redenção.
Confira o Manifesto:
50 ANOS DA TV GLOBO: VAMOS
DESCOMEMORAR!
A TV Globo festejará os seus 50
anos de existência no dia 26 de abril. Serão promovidos megaeventos e lançados
vários produtos comemorativos. No mesmo período, porém, muita gente está
disposta a promover a “descomemoração” do aniversário do império global, um ato
de repúdio ao papel nocivo desse grupo de mídia na história do país. Uma
palavra-de-ordem que se destaca em todo o Brasil em manifestações recentes é:
“O povo não é bobo. Fora Rede Globo”. E motivos não faltam para esta revolta.
A emissora é filha bastarda do
golpe militar de 1964. O então diretor do jornal “O Globo” Roberto Marinho foi
um dos principais incentivadores da deposição do presidente João Goulart, dando
sustentação ideológica à ação das Forças Armadas. Um ano depois, foi fundada a
sua emissora de televisão, que ganhou as graças dos ditadores. O império foi
construído com incentivos públicos, isenções fiscais e outras mutretas. Os
concorrentes no setor foram alijados, apesar do falso discurso global sobre o
livre mercado.
Nascida da costela da ditadura,
a TV Globo tem um DNA golpista. Apoiou abertamente as prisões, torturas e
assassinatos de inúmeros lutadores patriotas e democratas que combateram o
regime autoritário. Fez de tudo para salvar o regime dos ditadores, inclusive
omitindo a jornada das Diretas Já na década de 80. Com a democratização do
país, ela atuou para eleger seus candidatos – os falsos “caçadores de marajás”
e os convertidos “príncipes neoliberais”. Na fase recente, a TV Globo militou
contra toda e qualquer avanço mais progressista, atuando na desestabilização
dos governos que não rezam integralmente a sua cartilha. Nas marchas de março
desse ano, ela ajudou a mobilizar o anseio golpista e garantiu a ele todos seus
holofotes.
A revolta contra a Globo que
ganha corpo está ligada também à postura sempre autoritária diante dos
movimentos sociais brasileiros. As lutas dos trabalhadores ou não são notícia
na telinha ou são duramente criminalizadas. A emissora nunca escondeu o seu
ódio ao sindicalismo, às lutas da juventude, aos movimentos dos sem-terra e dos
sem-teto. Através da sua programação, não é nada raro ver a naturalização e o
reforço ao ódio e ao preconceito. Esse clima de controle e censura oprime
jornalistas, radialistas e demais trabalhadores da empresa, que são subjugados
por uma linha editorial que impede, na prática, o exercício do bom jornalismo,
servidor do interesse público, em vez da submissão à ânsia de poder de grupos
privados.
Além da sua linha editorial
golpista e autoritária, a Rede Globo – que adora criminalizar a política e
posar de paladina da ética – está envolvida em inúmeros casos suspeitos. Até
hoje, ela não mostrou o Darf (Documento de Arrecadação de Receitas Federais) do
pagamento dos seus impostos, o que só reforça a suspeita da bilionária
sonegação da empresa na compra dos direitos de transmissão da Copa do Mundo de
2002. A falta de transparência do império em inúmeros negócios é total. Ela
prega o chamado “Estado mínimo”, mas vive mamando nos cofres públicos, seja
através dos recursos milionários da publicidade oficial ou de outros
expedientes mais sinistros.
Essas e outras razões explicam
o forte desejo de manifestar o repúdio à TV Globo em seu aniversário de 50
anos. Assim, vamos realizar em torno do dia 26 de abril uma série de
manifestações, em todo o país, para denunciar a emissora como golpista ontem e
hoje; exigir a comprovação do pagamento de seus impostos; e reforçar a luta por
uma mídia democrática no Brasil.
Sem enfrentar o poder e colocar
limites à maior emissora do Brasil – e uma das cinco maiores do mundo – não
será possível garantir a regulamentação dos artigos da Constituição que proíbem
o monopólio para levar a cabo a democratização do país. Por isso, vamos às ruas
contra a Globo e convidamos todos os brasileiros comprometidos com a
democracia, a liberdade de expressão, a cultura nacional, o jornalismo livre e
a soberania popular a participar das manifestações em todo o país.
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