Em um mundo onde a
privacidade online é uma preocupação cada vez maior, especialistas em
segurança dizem que um de nossos maiores erros é a premissa de que se
escondermos nossas identidades com senhas e pseudônimos, nos manteremos
seguros e anônimos. Mas as evidências mostram que não é preciso muito
para que nossas identidades sejam reveladas.
Em janeiro, um estudo
que analisou dados de cartões de crédito mostrou que apenas quatro
informações são necessárias para ligar um indivíduo ao registro
"anônimo" de suas operações – uma delas são as coordenadas geográficas
que podem ser retiradas de um smartphone.
E quais são as outras
informações potencialmente perigosas? O que elas podem revelar? Como
proteger melhor seus dados pessoais no futuro? Conheça aqui as
respostas.
Quais dados mais me colocam em risco?
Datas,
horários, localização geográfica e o número de série de um smartphone
são os itens que mais podem revelar suas atividades e por onde você
anda. O conjunto dessas informações é conhecido como metadados, ou
arquivos Exif do smartphone. Esses fragmentos de informação podem ser
colocados juntos para formular sua identidade.
A maioria das
pessoas vê a marcação de localização geográfica como a maior ameaça à
sua privacidade. Trata-se de uma ferramenta que muitos aplicativos
utilizam para encontrar e divulgar a exata localização de seus usuários.
No
Facebook, por exemplo, essa informação é transmitida automaticamente
quando você posta algo ou conversa no chat – é necessário desabilitá-lo
manualmente. Isso também ocorre em aplicativos como o Instagram e o
Twitter. O problema é que ela revela a localização das pessoas quando
elas pensavam que ninguém sabia onde elas estavam.
Como essas informações podem revelar minhas atividades?
No
início deste ano, um criminoso chamado Ashley Keast foi preso em
flagrante depois de postar uma foto sua comemorando o roubo do
smartphone que ele estava usando. Mesmo tendo trocado o chip interno
antes de mandar a foto pelo WhatsApp, amigos da vítima reconheceram o
local e chamaram a polícia.
Mais recentemente, o aplicativo de
encontros Grindr foi investigado por revelar demasiadas informações
sobre a localização de seus usuários. Colby Moore e Patrick Wardle, da
empresa de segurança online Synack, descobriram que se alguém criasse
três perfis separados no Grindr e procurasse por outro usuário
específico, cada perfil traria informações capazes de localizar aquela
pessoa.
A Synack disse que outros aplicativos semelhantes podem apresentar o mesmo problema, já que usam tecnologias parecidas.
Mas,
felizmente, a localização é um aspecto que você pode controlar através
das configurações de cada aplicativo no menu principal de seu telefone,
como lembra o especialista em segurança de computadores Graham Cluley.
Os
metadados ainda podem ser coletados de seu smartphone mesmo quando você
está realizando a tarefa mais básica de telefonar para alguém.
"Não
é a mesma coisa que alguém escutar seus telefonemas", afirma Cluley
sobre as informações que as empresas de telefonia recolhem sobre seus
clientes. "Mas elas conseguem saber para quem você ligou, quanto tempo
falou e onde você estava ao fazer aquela chamada".
Então, mesmo
que a conversa tenha ficado oculta, as pessoas ainda podem preencher
lacunas, o que pode ter consequências graves. "Basta pensar que se você
ligou para um serviço de sexo por telefone às 2h e falou por 18 minutos,
não é preciso ouvir a conversa para imaginar seu conteúdo", diz o
especialista.
Mas eu não concordei com nada disso. Isso é legal?
É
muito provável que você tenha, sim, concordado. E a atividade é legal.
Cada vez que você entra em uma rede social ou usa um serviço como o
Facebook, por exemplo, você está optando por ter todos os seus
movimentos registrados só por usar esses aplicativos e sites.
Infelizmente,
ao acessar esses programas você deixa um rastro de dados bastante
detalhado. Esses dados podem facilmente serem colocados lado a lado para
formar uma narrativa a seu respeito.
Assim como as operadoras de
telefonia têm o direito de gravar metadados de suas chamadas, as redes
sociais também o têm. Para piorar, algumas empresas digitais apresentam
políticas de privacidade em textos superextensos, desencorajando os
usuários a ler tudo. O site PayPal, por exemplo, tem um texto de termos e
condições mais longo que Hamlet, de Shakespeare.
O que mais meu telefone pode revelar?
Celebridades e outras personalidades já aprenderam que metadados são potencialmente perigosos.
No
ano passado, a Comissão de Táxis e Limusines de Nova York divulgou uma
lista de todas as corridas realizadas pelas empresas afiliadas,
incluindo horários, lugares, valor da corrida, gorjetas e o número do
registro dos veículos.
Com a informação divulgada, um estagiário
de uma firma de pesquisas conseguiu descobrir onde e quando alguns
famosos, como Bradley Cooper e Jessica Alba, pegaram táxis, e quanto
pagaram em gorjetas.
Eu não sou famoso. Quem quer saber dos meus detalhes?
Documentos
como os divulgados em Nova York podem ser usados para determinar onde
você anda – se você foi parar em um clube de strip-tease ou em casa, por
exemplo.
Os metadados também podem ser usados para revelar
informações mais íntimas. Segundo um relatório do Instituto de
Tecnologia de Massachusetts (MIT), até o estado mental de alguém pode
ser determinado pela frequência com que faz telefonemas ou usa o
smartphone.
Devo me preocupar com alguém me ter como alvo?
Quanto mais plataformas online
você usar para se comunicar, mais chances você tem de ser hackeado. E um
hacker pode até ser alguém que você conhece.
Segundo Cluley, é
possível comprar facilmente na internet itens que normalmente são
vendidos para pais que querem monitorar a atividade dos filhos. Isso
significa que qualquer pessoa também pode usá-los a aparelhos
desbloqueados para acompanhar a atividade de alguém.
Há ainda os
serviços de reconhecimento facial, como o DeepFace, que o Facebook usa
para reconhecer seus amigos nas fotos. Muitas pessoas temem que
softwares como esse comprometam ainda mais a privacidade das pessoas
comuns.
O que as empresas deveriam fazer?
É
importante entender que quando você usa uma rede social, você não é
apenas um consumidor, mas também um produto. Por isso, as empresas por
trás dessas redes não pensam em mudar seus modelos de negócio para se
tornarem mais amigáveis a seus usuários.
Isso, no entanto, abre oportunidades para novas empresas criarem softwares que podem disfarçar ou embaralhar metadados.
Um
aplicativo chamado CacheCloak está sendo desenvolvido para mascarar as
coordenadas geográficas de quem o utiliza. Outra tecnologia cada vez
mais popular é a que permite o uso de senhas com autenticação de voz.
O que posso fazer para reduzir meu rastro na rede?
Felizmente existem muitas maneiras de diminuir a quantidade de metadados que você dissemina.
A
solução mais simples é ir às configurações de privacidade de seu
smartphone e selecionar quais aplicativos podem ou não ter acesso à sua
localização.
Já nas redes sociais, você pode optar por ter apenas seus amigos como público de seus posts.
No
Facebook, não se esqueça também de desligar a opção de marcação de
localização que pode ser encontrada na sua barra de status e no serviço
de mensagens instantâneas.
E uma regra fundamental: se você não
quer que informações sobre você e fotos suas acabem nas mãos de
desconhecidos, simplesmente não as coloque na internet.
Nenhum comentário :
Postar um comentário