A aprovação do chamado Orçamento Impositivo pode prejudicar a
Saúde Pública e a Confederação Nacional de Municípios (CNM) explica por quê. A
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê a aplicação obrigatória das
emendas parlamentares foi aprovada pelo Plenário da Câmara dos Deputados e deve
ser promulgada em breve pelo Congresso Nacional. Nela está prevista uma
nova regulamentação para o financiamento do setor por parte da União. O
Orçamento Impositivo prevê uma ampliação progressiva dos recursos nos cinco
anos seguintes ao da promulgação. Dessa forma, no primeiro ano, o governo
federal deve aplicar em Saúde 13,2% da Receita Corrente Líquida; no segundo
ano, 13,7%; no terceiro ano, 14,1%; no quarto ano, 14,5%; e, no quinto ano em
diante, 15%.
Com as regras do Orçamento Impositivo, o financiamento
aprovado por meio da Emenda Constitucional 29/2000, regulamentada pela Lei
Complementar 141/2013, será alterado. A EC 29 determina que os Municípios
apliquem no mínimo 15% da receita no setor, os Estados 12% e a União aplicava o
valor do orçamento do Ministério da Saúde, do ano anterior, mais a variação do
Produto Interno Bruto (PIB) nominal dos dois últimos anos.
A PEC do Orçamento Impositivo determina ainda que o total das
emendas para a Saúde sejam computadas para o total a ser aplicado pela nova
norma. Assim, a União poderá também somar os valores repassados dosroyalties de
petróleo e gás natural, da Lei 12.858/2013, para o setor. Isso pode configurar
somente uma troca de fonte de recursos e não novos recursos para a Saúde
Pública, adverte a CNM.
Saúde +10
A Saúde Pública ganharia muito mais se o Congresso Nacional
tivesse aprovado um projeto de iniciativa popular apresentado com mais de dois
milhões de assinaturas. O Saúde+10 prevê um aporte de recursos de 10% da
Receita Bruta da União, o que dá uma enorme diferença em relação ao Orçamento
Impositivo, destaca o presidente da Confederação, Paulo Ziulkoski. “Se tivesse
sido aprovado o percentual de 10% das receitas da União para o financiamento da
Saúde quando foi aprovada a EC 29, os recursos somente por parte da União
seriam R$ 746 bilhões a mais do valor que foi aplicado. Portanto, o setor
perdeu todo esse montante”, concluiu Ziulkoski
Como a União aplicou menos do que poderia, coube aos
Municípios investirem em Saúde. Os entes municipais gastaram acima dos 15%
previstos na Constituição Federal. A média de aplicação está em torno de 20% a
21%. Alguns aplicam até mais de 30% nesta área. “Há um problema real de falta
de recursos financeiros para atender a enorme demanda da sociedade, e o ente
mais fraco, que é o Município, acaba arcando com a manutenção do sistema”,
ressalta o presidente da entidade, Paulo Ziulkoski.
Entre 2000 e 2011, os governos municipais aplicaram acima dos
15% constitucionais, mais de R$ 130 bilhões. “Esses recursos fizeram muita
falta nas outras áreas, e também não foram suficientes para financiar uma Saúde
de qualidade”, reforça. A CNM lembra que, como o Orçamento de 2015 ainda não
foi aprovado, não há como saber se esta regra de transição terá menos ou mais
recursos para a Saúde. Mas, é certo de que as regras do Orçamento Impositivo
representam bem menos do que os 10% da Receita Bruta da União.
Críticas às emendas parlamentares
A PEC do Orçamento Impositivo é vista pelo Congresso como uma
alternativa à baixa execução das emendas parlamentares. Por isso, torná-las
obrigatórias seria o melhor caminho na opinião de deputados e senadores. A
proposta diz o seguinte: as emendas individuais podem somar até o limite de
1,2% da RLC da União do ano anterior. Deste montante, 50% devem ser destinadas
à Saúde e os outros 50% as demais áreas. O governo federal tem o dever de
executar todas as emendas aprovadas, e se não as fizer, necessita apresentar ao
Congresso os motivos. O parlamentar terá um novo prazo para remanejar a emenda
para outra localidade e ou outra ação.
Mesmo com as boas intenções por parte dos deputados e
senadores, a CNM é contrária às emendas parlamentares individuais. Paulo
Ziulkoski explica que o Orçamento Geral da União (OGU) deve ser republicado e
impessoal, e a vinculação destes recursos na mão de parlamentares contrariam
estes preceitos. Para comprovar esta afirmação, a CNM produziu estudos. Em 10
anos, de 2002 a 2012, foram aprovados mais de R$ 132 bilhões em emendas parlamentares.
No entanto, somente R$ 22 bilhões foram efetivamente executados neste período.
“A cada dez emendas, menos de duas são pagas”, lamenta o presidente da CNM.
Por causa da crise financeira cada vez mais aguda, muitos
gestores municipais veem nas emendas a única maneira de fazer alguns
investimentos no Município. O problema é que isso não tem a efetividade
esperada, e a maioria destas emendas ficam inscritas nos chamados Restos a
Pagar (RAPs). Elas se tornam uma verdadeira novela para serem liberadas e
executadas. E ao invés de ajudar, são um problema ainda mais grave para as
administrações municipais.
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