Por Cláudio
Santos
Desembargador/Presidente do TJRN
Desembargador/Presidente do TJRN
Matéria postada originalmente na Tribuna do Norte
De há muito, na condição de cidadão e orgulhoso sertanejo,
observo com especial atenção o reiterado desacerto com a gerência de águas
neste Estado. Não sei se há decisão técnica nem a que órgão público cabe tal
atribuição, mas é fato que ocorre completa e histórica irresponsabilidade ou
excesso de otimismo, neste último caso mais calcado em subjetivo entendimento
pessoal do gestor, do que em conhecimento local do problema, que é o mais sério
que a sociedade potiguar enfrenta, há décadas, notadamente os cidadãos mais
pobres.
Cito apenas dois exemplos pontuais, que servem de 3x4 para o resto do Estado: a barragem Passagem das Traíras, localizada entre Jardim do Seridó, São José e Caicó, até um dia desses, entrando no semestre passado, estava soltando água em abundância, ao longo do leito do rio, sem que ninguém estivesse fazendo a conta custo/benefício. Mas, de verdade, sei que era para aguar capim para uma dúzia de pequenos criadores de meia dezena de vacas nos sítios à jusante. Ou para levar água para amenizar o calor do lazer na Ilha de Sant’Ana. Hoje está seca!
O outro exemplo, que os jornais estamparam por esses dias, é que a Barragem
“Armando Ribeiro Gonçalves” continua a soltar água em abundância... Se for para
saciar a sede das cidades ao longo do rio Açu, talvez pelo leito do rio não
seja o canal mais adequado, dado o eloquente desperdício. Se for para aguar
bananas... Aí é questão de completa falta de juízo, pois para os trabalhadores
que labutam nessa atividade existe o legal seguro-desemprego.Cito apenas dois exemplos pontuais, que servem de 3x4 para o resto do Estado: a barragem Passagem das Traíras, localizada entre Jardim do Seridó, São José e Caicó, até um dia desses, entrando no semestre passado, estava soltando água em abundância, ao longo do leito do rio, sem que ninguém estivesse fazendo a conta custo/benefício. Mas, de verdade, sei que era para aguar capim para uma dúzia de pequenos criadores de meia dezena de vacas nos sítios à jusante. Ou para levar água para amenizar o calor do lazer na Ilha de Sant’Ana. Hoje está seca!
Com essas breves premissas, pergunta-se a quem se detém o dever de responder: se não chover (toctoctoc) para fazer água nos grandes reservatórios, de onde vai se tirar o precioso líquido (como diziam os antigos locutores de rádio) para os cidadãos potiguares?
O inverno (?) deste ano já é atrapalhado, para ser otimista, no mínimo. Quando o inverno é bom, o rio Seridó já desce de barreira a barreira desde janeiro, o que mais nunca se viu. Já não tem água para o povo beber em dois terços das cidades de portes médio e pequeno. As lagoas que abastecem Natal estão muito abaixo da média. O lençol que atende às populações do oeste já apresenta problemas significativos, pois a estrutura de retirada d’água é antiga e obsoleta para períodos críticos. Há contaminação frequente.
O fato é que não há, na atual conjuntura de crise d’água potável em todo o mundo, em particular no Brasil, e mais especialmente no semi-árido, uma política realista de gestão prudente e técnica, que não comporta, ao meu entender, nenhuma possibilidade de agricultura irrigada, a não ser a partir de poços no alto oeste, e, mesmo assim, de forma mais racional, sem os abusos atuais.
A Barragem Armando Ribeiro Gonçalves é um reservatório que quando chegar à metade de sua capacidade, não pode mais soltar nenhum volume, pois inúmeras são as populações urbanas e rurais que dependem daquela água, cada dia mais escassa. Lembrem-se: sempre pode ser estiado o próximo. O problema é grande e preocupante. Hoje caminhões-pipa percorrem até 200 km para buscar água, que não mais há.
Acredito ser urgentes providências administrativas – dos governos e Prefeituras -, com iniciativas de solução emergencial e circunstancial e rigor na gestão, inclusive no varejo, desde se proibir gastos supérfluos em qualquer cidade, como lavagem de carros e calçadas, ainda com o reforço de forte campanha publicitária para sensibilizar a todos os potiguares.
O Poder Judiciário do Estado está a postos para respaldar as ações governamentais objetivando minimizar o problema e efetivar o rigor das medidas de interesse público que possam e devam ser tomadas.
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