Ter mais prazo de carência para começar a pagar a
terra, podendo pagá-la em 35 anos, e ainda ter direito a utilizar o
Crédito Fundiário para financiar a compra das áreas dos outros
herdeiros. Esses foram alguns dos avanços obtidos pelos agricultores
familiares com a aprovação nessa terça-feira (22), na Câmara dos
Deputados, do Projeto de Lei Complementar (PLP) 362/2006. Proposto pelo
Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em 2006, o projeto altera
dispositivo da Lei Complementar nº 93, de 4 de fevereiro de 1998, que
institui o Fundo de Terras e da Reforma Agrária.
Segundo o secretário de Reordenamento Agrário
(SRA/MDA), Adhemar Almeida, essa conquista é resultado do empenho de
todos os parlamentares comprometidos com a agricultura familiar, bem
como do esforço conjunto e da mobilização dos movimentos sociais de
trabalhadores rurais e da agricultura familiar, parceiros importantes do
Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF). "Parabenizamos o
parlamento brasileiro e, em especial, os agricultores familiares pela
aprovação. Nós, do MDA, vamos fazer a nossa parte, propondo os
melhoramentos no Programa Nacional de Crédito Fundiário que a medida
aprovada permite", disse o secretário.
O PL propõe ainda outra importante mudança no que diz
respeito ao teto de renda e patrimônio, antes um limitador para que
agricultores tivessem acesso ao Crédito Fundiário, pois os parâmetros
datavam de 1998 e já não atendiam à realidade atual. A partir da
aprovação, estes não mais serão definidos pela Lei Complementar, mas,
sim, por regimento, adequando-se à realidade dos estados.
Ao impedir a venda entre herdeiros, a lei acabava
favorecendo a venda da propriedade e, consequentemente, a migração dos
agricultores, na sua maioria jovens, para as cidades. A aprovação do PL
362, destacou Almeida, reforça o PNCF com uma importante opção de acesso
à terra para a juventude, pois ao financiar a sucessão da propriedade
ele contribui para a permanência do jovem no campo e para a consolidação
do regime de propriedade da agricultura familiar.
Para o secretário de Agrária e de Juventude da
Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Santa Catarina (Fetaesc),
Adriano Gelsleuchter, esta é mais uma conquista do movimento sindical,
que vem melhorar a vida dos agricultores familiares, em especial a da
juventude rural. É da mesma opinião o secretário de Política Agrária da
Contag, Zenildo Xavier, que entendeu a aprovação do PL como uma
importante conquista. “Foram anos de luta e de articulação para
chegarmos a essa tão sonhada aprovação. Nossa expectativa agora é de
avançar no Programa Nacional de Crédito Fundiário”, disse Xavier.
O coordenador nacional da Pastoral da Juventude
Rural, Laécio Vieira, vê como um avanço para os jovens rurais a
aprovação do PL 362. “É uma luta de vários movimentos que, em conjunto
com o governo, sensibilizou o Congresso Nacional na aprovação desta
importante Lei, que vem contribuir para permanência digna do jovem na
terra”, comentou.
De acordo com Lázaro de Sousa Bento, da secretaria de
Gestão e Finanças da Federação dos Trabalhadores na Agricultura
Familiar (Fetraf/Brasil), havia uma expectativa grande da Fetraf/Brasil
para a aprovação deste Projeto de Lei. “Esta é, sem dúvida, uma
conquista dos movimentos, pois além do avanço que o PL 362 vai permitir
no PNCF (com o aumento dos prazos de pagamento e carência), ele ainda
possibilita a compra entre herdeiros, o que contribui para a permanência
do agricultor familiar no campo”, afirmou Bento.
PNCF
O Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) é gerido pela Secretaria de Reordenamento Agrário (SRA/MDA) em parceria com estados e com os movimentos sociais de trabalhadores (as) rurais e da agricultura familiar. Além da terra, o PNCF permite ao agricultor construir sua casa, preparar o solo, comprar implementos, ter acompanhamento técnico e o que mais for necessário para se desenvolver de forma independente e autônoma.
O Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) é gerido pela Secretaria de Reordenamento Agrário (SRA/MDA) em parceria com estados e com os movimentos sociais de trabalhadores (as) rurais e da agricultura familiar. Além da terra, o PNCF permite ao agricultor construir sua casa, preparar o solo, comprar implementos, ter acompanhamento técnico e o que mais for necessário para se desenvolver de forma independente e autônoma.
Possui três linhas de financiamento - com juros que
variam de 0,5% a 2% e assistência técnica de cinco anos – e selos
adicionais para jovens, negros não quilombolas, mulheres e para projetos
ambientais, sendo uma importante alternativa para agricultores
familiares, principalmente a juventude.
O Nossa Primeira Terra (NPT) é uma linha específica
do PNCF para jovens rurais, filhos e filhas de agricultores, estudantes
de escolas agrotécnicas e centro familiares de formação por alternância,
com idade entre 18 e 29 anos, que queiram viabilizar o próprio projeto
de vida no meio rural. Possui uma linha de crédito com juros de 1% ao
ano para contratos individuais e 0,5% para os coletivos (CADÚnico). Para
os jovens que acessarem o NPT coletivamente, ainda há um adicional de
recursos de R$ 3 mil, para investimentos em infraestrutura produtiva e
comunitária - não reembolsáveis - incluído no crédito, que possibilita a
implementação de projetos específicos.
O que mudou para o agricultor familiar
Antes da aprovação do PL 362
Prazo de até 20 anos para pagar o financiamento
Prazo de até 20 anos para pagar o financiamento
Carência de 36 meses (3 anos) para iniciar o pagamento do financiamento
Era proibido ao herdeiro de
parte de uma propriedade rural, utilizar recursos do Fundo de Terras
para financiar a compra da área dos outros herdeiros
Com a aprovação do PL 362
Prazo de até 35 anos para pagar o financiamento.
Carência de 60 meses (5 anos) para iniciar o pagamento do financiamento.
Fica permitido ao herdeiro de parte de uma
propriedade rural utilizar recursos do Fundo de Terras para financiar a
compra da área dos outros herdeiros.
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