Cerimônia foi realizada pelo Papa Francisco no Vaticano, neste domingo, com a presença do papa Bento XVI; canonização foi acompanhada por cerca de três milhões de fiéis.
O Papa Francisco declarou santos, neste domingo 27, os papas João
Paulo II e João XXIII. A cerimônia, realizada na Praça de São Pedro, no
Vaticano, teve a presença do antecessor de Francisco, o papa Bento XVI, e
foi acompanhada por cerca de três milhões de fiéis.
Segundo autoridades locais, cerca de 800 mil peregrinos teriam
viajado até Roma para acompanhar as canonizações. Alguns aguardaram a
celebração desde o sábado à tarde, para não perder espaço na praça da
capital italiana. Houve desmaios durante a missa, que foi celebrada do
lado de fora da Basílica de São Pedro.
"Declaramos e definimos como santos os beatos João XXIII e João Paulo
II e os inscrevemos no Catálogo dos Santos, e estabelecemos que em toda
a Igreja sejam devotamente honrados entre os Santos", disse o papa
Francisco em latim, seguido instantaneamente pelos aplausos da multidão.
Abaixo, reportagem da Reuters a respeito:
Centenas de milhares veem dois papas serem proclamados santos
Gritos e aplausos ecoaram em toda a Praça de São
Pedro depois da histórica dupla canonização papal, com muitos na
multidão fixando o olhar em enormes tapeçarias dos dois papas na fachada
da basílica, atrás do papa Francisco.
"Nós declaramos e definimos como beatos João XXIII e João Paulo II e
os incluímos entre os santos, decretando que sejam venerados como tais
por toda a Igreja", disse Francisco em sua proclamação formal em latim.
Relíquias de cada um dos ex-papas - um recipiente com sangue de João
Paulo II e com a pele de João XXIII - foram colocados perto do altar.
O fato de que dois homens que são amplamente vistos como faces
contrastantes da Igreja estejam sendo canonizados contribui para a
importância de um evento que o papa Francisco espera que irá aproximar
os 1,2 bilhão de católicos no mundo, depois de uma série de escândalos
financeiros e sexuais.
O ex-Papa Bento XVI também participou da missa. No ano passado, ele se tornou o primeiro pontífice em seis séculos a renunciar.
Seu comparecimento conferiu à cerimônia uma certa atmosfera surreal,
num evento que contou com a presença de um papa, um papa aposentado e
dois papas já falecidos e enterrados na basílica. O papa Francisco
cumprimentou Bento XVI duas vezes durante a cerimônia.
SÉCULO TRÁGICO
"Estes foram dois homens de coragem ... e deram testemunho diante da
Igreja e do mundo da bondade e misericórdia de Deus", afirmou Francisco
em seu discurso.
"Eles viveram os trágicos acontecimentos do século (XX), mas não
foram oprimidos por eles. Para eles, Deus era mais poderoso, a fé era
mais poderosa", acrescentou.
João XXIII, que foi papa entre 1958 a 1963 e convocou a modernização no Concílio Vaticano II, viveu duas guerras mundiais.
João Paulo II, cujo papado durou quase 27 anos, testemunhou a
devastação da sua terra natal na Segunda Guerra Mundial, sendo
reconhecido por muitos pela ajuda ao fim da Guerra Fria e derrubada do
comunismo.
Enquanto ambos foram amplamente reverenciados, também houve críticas
acerca da rápida canonização de João Paulo II, que morreu apenas nove
anos atrás.
Grupos que representam vítimas de abuso sexual por padres católicos
também disseram que ele não fez o suficiente para erradicar um escândalo
que surgiu no final do seu pontificado e que tem pairado sobre a Igreja
desde então.
A controvérsia, no entanto, não afastou os fiéis católicos. O
Vaticano disse que mais de 500 mil pessoas lotaram a área da basílica
enquanto outro 300 mil assistiram ao evento em grandes telas de TV por
toda Roma.
João XXIII, um italiano muitas vezes conhecido como o "Papa Bom" por
causa de sua amigável personalidade, morreu antes do Concílio Vaticano
II encerrar seus trabalhos em setembro de 1965. Mas sua iniciativa deu
início a uma das maiores reformulações da Igreja nos tempos modernos.
O Conselho acabou com o uso do latim na missa, trouxe o uso da música
moderna e abriu o caminho para os desafios à autoridade do Vaticano.
Já João Paulo II continuou muitas das reformas, mas apertou o
controle central, condenou teólogos renegados e pregou uma linha mais
rigorosa sobre questões sociais, como a liberdade sexual.
Um papa carismático, ele foi criticado por alguns como um rígido
conservador, mas a adoração pública que despertou foi mostrada por
multidões, cujos gritos de "santo subito!" (santo já) em seu funeral em
2005 foram respondidos com a mais rápida declaração de santidade da
história moderna.
(Por Philip Pullella e James Mackenzie)
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