Aos 19 anos, Caio* faz cursinho pré-vestibular. Ele quer estudar e ser escritor. A mãe do rapaz, Inês de Souza Dias, elogia as habilidades do filho, mas não esconde a existência dos traços deixados pela síndrome de Asperger,
tipo de autismo diagnosticado quando ele era ainda pequeno. Dificuldade
de entendimento e de aceitação das regras sociais e falta de interesse
por assuntos do dia a dia são alguns deles.
“Caio tem interesses muito focados. Gosta de jogos e só quer falar sobre isso. Apesar de
ser muito inteligente, não se interessa por assuntos cotidianos. Isso
dificulta, por exemplo, o trabalho na escola. É uma batalha para
conseguir que ele aprenda outras coisas”, conta. “Ele tem também um déficit de atenção bem acentuado. Para o Caio, é difícil permanecer na mesma tarefa por muito tempo”, completou.
Segundo Inês, características do filho consideradas estranhas por muitos, como andar para lá e para cá e a conversa com
ele mesmo, ajudaram a definir o futuro do rapaz. “Numa certa idade, ele
andava de um lado para o outro e falava alto. Parecia que estava
contando histórias. Perguntei o que ele estava fazendo e ele disse que
estava brincando com a imaginação e contando uma história para ele
mesmo. Perguntei se gostaria de transformá-la em um livro. E foi o que
fizemos.”
Caio frequentou a escola com
crianças sem o transtorno e recebe, até hoje, acompanhamento especial.
Mas a estimativa da Associação de Amigos do Autista (Ama) é que, das
cerca de 1 milhão de pessoas no país diagnosticadas com autismo,
apenas 100 mil recebam algum tipo de atendimento. No Dia Mundial de
Conscientização do Autismo, lembrado hoje (2), a instituição cobra uma
discussão mais ampla sobre o assunto.
“O diagnóstico é a parte do problema que mais ganha com a data. Os
pediatras acabam percebendo e se interessando pela causa. É o ponto mais
favorecido. O grande problema é que, feito o diagnóstico, a família fica sem saber para onde ir”, explicou a superintendente e cofundadora da Ama, Ana Maria de Mello.
Mãe de um rapaz autista de 34 anos, ela lembra que, na época em que recebeu o diagnóstico, não havia tratamento
disponível. O processo, segundo ela, é complicado, uma vez que envolve
diversos profissionais de áreas distintas. “Estamos falando do espectro
do autismo. Temos desde casos de extrema gravidade até casos de pessoas com
inteligência normal, mas que também precisam de alguém que entenda o
que está fazendo. Os casos mais leves não são tão simples.”
Para a presidenta da Associação
Brasileira de Autismo, Marisa Furia Silva, o autismo ainda é um assunto
pouco abordado, sobretudo no Brasil. Mãe de um rapaz de 36 anos com a
síndrome, ela lembra que, depois do diagnóstico, houve pouca informação
sobre como lidar com o filho. “Não tínhamos internet nem literatura
sobre o assunto. Era uma época difícil. Não se sabia o que fazer.”
Marisa também acredita que a maior parte das pessoas diagnosticadas
com autismo no país está sem atendimento. Segundo ela, o avanço no
diagnóstico precoce não basta. É preciso ampliar a rede de apoio e de
atendimento à criança e à família.
“A gente tem que pensar que é para a vida toda. Temos muitos adultos
comprometidos hoje e a esperança é que, no futuro, isso não aconteça. O
prognóstico de uma criança é muito melhor”, destacou. “Estamos em um
momento em que já se tem documentos e parâmetros para o diagnóstico.
Agora, temos que ter tratamento”, destacou.
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