As chuvas que caíram mês passado no interior do Rio Grande do Norte encheram alguns açudes, levaram alívio à população de alguns municípios em estado de emergência, mas não foram suficientes para melhorar os níveis nos principais reservatórios do Estado. A Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, em Assu, continua secando e, atualmente, está com pouco mais de 32% de sua capacidade total. É o percentual mais baixo da história. Por dia, a barragem está secando 1,07 bilhão de litros d’água para abastecer 34 cidades.
Magnus NascimentoBarragem Armando Ribeiro é responsável pelo abastecimento de 34 municípios potiguares
Concomitantemente, o Governo do Estado ainda não definiu o planejamento para distribuição e uso racional da água nos 161 municípios que sofrem com os efeitos da estiagem há mais de dois anos. Sabe-se apenas que o problema será discutido município por município. Na próxima segunda-feira, técnicos da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) e secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) vão participar de mais uma reunião para tratar sobre o assunto. Na última semana de fevereiro, o grupo se encontrou por duas vezes.
Enquanto há letargia na efetivação dos projetos que tentam amenizar os efeitos da seca, os reservatórios do Estado minguam a cada dia que passa. O principal reservatório potiguar – barragem Armando Ribeiro Gonçalves – está com 32,26% da sua capacidade. A medição foi realizada ontem e mostra que o nível baixa a passos largos. Há menos de dois meses, o local estava com 34,81% da sua capacidade. No dia 9 de janeiro, os dados apontavam a existência de 835.400 milhões m³ de água. Cinquenta e sete dias depois, esse número baixou para 774.296 milhões m³ de água. Ou seja, nesse intervalo, a perda foi de 61.104 milhões m³ de água que corresponde a 1,07 bilhão de litros d’água por dia.
A barragem é responsável pelo abastecimento de diversos sistemas adutores e 34 municípios potiguares. “Infelizmente, as águas que caíram em fevereiro não foram capazes de melhorar a situação. Nossa esperança é que chova mais”, disse Joana D’arc, coordenadora de gestão de recursos hídricos da Semarh.
De acordo com o gerente operacional da Caern, Izaías Costa, a perda de água na barragem não ocorre apenas devido ao abastecimento das cidades. Ele citou que os projetos de irrigação e outros canais como o do rio Pataxó, consomem um número significativo do reservatório. “É preciso verificar essa situação também. Não são apenas as cidades que consomem essa água. Há muita irrigação”, colocou.
Já o hidrólogo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), João Abner Guimarães Júnior informou que a evaporação também é fator que contribui para a diminuição do nível d’água. “Temos a evaporação natural e, o que mais preocupa, é que a ANA [Agência Nacional das Águas] não prioriza o consumo humano. Perde-se muita água para projetos de irrigação e carcinicultura”, disse.
A Armando Ribeiro Gonçalves tem capacidade total de 2,4 bilhões m³. Outras barragens e açudes também estão com níveis críticos. É o caso do açude Itans, em Caicó. Da capacidade total de armazenar 81.750.000 m³ de água, o local conta com apenas 7.935.000 m³, ou seja, 9,71% da capacidade.
Caern e Semarh discutem alternativas
Na próxima segunda-feira, de acordo com Joana D’arc, os profissionais da Semarh e Caern vão pensar em alternativas tendo como expectativa mais um ano de chuvas escassas. “Não é o que a previsão nos diz. O que sabemos é que teremos um inverno normal, porém, para efeito de projetos mais eficientes, vamos pensar que não teremos chuva”, disse.
A coordenadora também explicou que para cada município em situação de emergência será pensando uma solução diferente. “Nossa maior preocupação são os municípios de médio e grande porte. Cada caso é um caso. Devemos criar alternativas diferentes mesmo para situações parecidas”, colocou.
Algumas soluções já são conhecidas e foram sinalizadas durante um encontro com representantes da Caern e Semarh no Ministério da Integração Nacional (MI), em Brasília. Para cidades de maior porte, propõe-se a construção de adutoras de engate rápido ou perfuração de poços próximo a leitos de rios. Já nas cidades de menor porte, a opção continua sendo a utilização dos carros-pipa.
Das alternativas que saíram do papel, a obra em andamento, por enquanto, é a adutora de engate rápido que levará água para Pau dos Ferros, no Alto Oeste, a partir da cidade de Itaú, que já é abastecida pelas águas da barragem de Santa Cruz, em Apodi. Iniciada semana passada, a previsão de conclusão é de 90 dias.
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