Pela primeira vez, no Rio Grande do Norte, a reforma agrária vai passar
por um processo diferente de desapropriação de áreas destinadas aos
agricultores ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST). No próximo mês, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra/RN) deve receber, do Ministério da Fazenda (MF), um
terreno com cerca de dez mil hectares localizada na zona açucareira de
Ceará-Mirim. A área está sub judice em questões que envolvem dívidas com
o Tesouro Nacional. Apesar da informação, o MST critica o Incra/RN e
afirma que, há mais de dois anos, a reforma agrária está parada no
Estado.
Assentamento do MST, entre São Gonçalo e Ceará-Mirim
Desde
que foi implantada, a reforma agrária desapropriou cerca de 543 mil
hectares de terra e assentou aproximadamente 21 mil famílias no Rio
Grande do Norte. O processo para desapropriar os territórios segue um
rito burocrático e lento. “Primeiro os técnicos visitam a área e fazem
um levantamento sobre as características do local. Fazemos também o
estudo cartorial. Há a notificação do proprietário e sua posterior
defesa. São várias etapas”, explica o superintendente regional do
Incra/RN, Valmir Alves da Silva.
Mas, a partir de novembro
passado, em parceria com o MF e Receita Federal, o Incra/RN está
articulando uma maneira inédita no Estado que promete agilizar o
processo de ocupação das terras. Por meio de uma adjudicação, os órgãos
de fiscalização vão repassar um terreno de dez mil hectares – área
correspondente a 9.600 campos de futebol ou ao território do município
de Tibau do Sul – que será destinado à reforma agrária.
O Incra/RN não informou se a área corresponde a um único lote ou se
pertence a apenas um proprietário. Sabe-se que o território em questão
foi confiscado pela Receita Federal devido à dívidas com o Tesouro. Há
processo em andamento na Justiça Federal. “Essa é uma ação muito
positiva. Fomos demandados pela Receita Federal. A expectativa é que
devemos receber essa área para fim de reforma agrária através de um
processo de adjudicação. Vamos resolver parte dos acampamentos do Mato
Grande”, informa Valmir.
Além da área em questão, o Incra/RN
trabalha com a expectativa de desapropriar mais dez áreas espalhadas
pelo Estado este ano. São mais 20 mil hectares sob análise dos técnicos
do órgão. Parte dessa demanda foi apresentada pelo próprio MST. “Mas
temos nosso trabalho de investigação cartorial que também identifica
possíveis áreas passíveis de desapropriação”, diz o superintendente.
Além
do MST, o Incra/RN é responsável por responder à demandas de outros
quatro movimentos sociais: Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST),
Comissão Pastoral da Terra (CPT), Federação dos Sindicatos dos
Trabalhadores Rurais do Rio Grande do Norte (Fetarn) e Federação dos
Trabalhadores na Agricultura Familiar do Rio Grande do Norte (Fetraf).
Até o momento, o Incra/RN criou 288 assentamentos. O maior número destes
está instalado nas regiões do Mato Grande, Açu/Mossoró e Sertão do
Apodi.
Desde 2003, foram vistoriados 170 imóveis rurais no
Estado, totalizando uma área de 237.743 hectares. Somente nos últimos
dois anos, 28 imóveis receberam a equipe técnica. Na perspectiva de
otimizar o trabalho e buscar terra plausível de desapropriação, no ano
passado o Incra/RN, fez uma visita técnica em dez imóveis. Cinco deles,
estão dentro das normas técnicas que possibilitam a desapropriação.
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