A sessão ordinária do dia 13 de Abril
de 2016 da Câmara Municipal de Natal discutia o corte do ponto dos professores
da rede municipal de ensino que estavam em greve.
Momentos antes da discussão, o
vereador questionava se os professores se desculpariam com os pais das crianças
que estão sem aulas. Após a indagação, é possível ouvir um ruído no vídeo.
Logo após, o vereador chama os professores de “bestas” e
diz que eles “podem continuar a latir”.
Ainda de acordo com Luiz Almir, ele foi xingado por um pequeno grupo que estava
presente e em resposta usou o que classifica como “força de expressão”. Disse o
vereador:
“Eu não quero voto de vocês não
bando de bestas. Eu tô querendo é explicação para eu dizer ao povo. Ora! Pode
latir aí até dar uma dor”
Uma professora escreveu
portanto uma carta bastante indignada para o político:
CARTA ABERTA AO VEREADOR, NO QUAL NUNCA VOTEI, LUIZ
ALMIR
Senhor vereador, vou começar
esta carta agradecendo a você pelas palavras proferidas na câmara ao falar para
os que ali ouviam, incluindo professores e outras pessoas tão comuns, agradeço
por me inspirar, pois lembrei uma frase em LATIM, que justificará meu texto.
Não, não entenda LATIR, é latim, língua não vernácula, mas muito citada pelos
conhecedores e estudiosos da língua. Leia isso: FACIT INDIGNATIO VERSUM.
A besta aqui, sou professora de língua
portuguesa “MAGISTER SUM”, mulher, cidadã, consciente do quão desprezível é o
senhor, traduzirá com propriedade o que essa frase significa, para que você,
“homem”, pai, vereador, ignorante, mal-educado, preconceituoso, misógino, saiba
que esses adjetivos não são força de expressão, estou exercendo o meu direito de
resposta, pois como o senhor discursou na câmara, ofendendo os professores, e
tem imunidade para isso, aproveito-me deste seu direito e posso respondê-lo da
forma como considerar adequada, não é interessante? Sou fascinada pelas leis
brasileiras quando podem ser usadas pelos cidadãos. Mas voltemos ao que
interessa aqui. Entenda, agora, como o latim FACIT INDIGNATIO VERSUM traduz
este momento tão democrático de liberdade de expressão: a indignação faz o
verso. Frase do poeta romano Juvenal. Eu, indignada com seu discurso, fui
inspirada por ele. Absurdamente, para não dizer e já dizendo, insanamente, você
diz que “podem latir, seus bestas, eu não preciso do voto de vocês”. Nós,
sociedade natalense, é que não precisamos de um vereador assim. Um “homem” que
se expressa de maneira chula, desprezível, ao falar de violência, que pessoas
que praticam crimes merecem morrer; que ao falar sobre mulher, e não entender o
adjetivo sensível relacionado a esse gênero, não entende se essa sensibilidade
é na “vertical ou horizontal?”. Que ser repugnante é você? Que tenta se
comunicar dessa maneira, que não sabe usar palavras de bom grado, a não ser
para pedir e quase implorar por votos, e consegue, dos leigos, dos pouco
informados, dos que talvez concordem com você. Quando disse no seu programa que
dirigiu embriagado e admitiu que não foi pego e já tantas e tantas vezes fez
isso. Você tem orgulho de dizer isso? Por quê? Que super-herói a sua pessoa
acredita ser? Que ser superior vive na sua cabeça que o fez acreditar nessa ilusão
de ser, você, o “homem” exemplar?
Você, Luiz Almir, desculpa-se em redes sociais
que as suas palavras proferidas foram por força de expressão e, ironicamente,
pede desculpas. Pura falácia! Você ainda diz que não seria capaz de
desrespeitar os professores, pois sua esposa trabalha na área de educação, como
pode usar um argumento desses, se além de professora, ela é mulher, e tantas
vezes, você a desrespeita, ou você não sabia que ela é uma mulher? Seu
vereadorzinho, o que você na câmara disse, só mostrou que você é, sabe por quê?
VOLUNTAS PRO FACTO REPUTATUR, traduzindo o latim para você não ter que ir
buscar no Google e perder a sequência desta carta, “intenção faz ação”.
Entendeu? Isso é LATIM, viu? Mas pra você pode ser “latir”, já que você é só um
“comunicador”, e se considera jornalista, nunca sentou em uma cadeira de
universidade, só na de um bar, nem entende o que significa ser “comunicador”,
mas talvez até o seja mesmo, esse que COMUNICA A DOR, a dor de ser tão ínfimo,
a dor de ser tão incapaz, que apenas agride com essas palavras vis, na
tentativa de ser ouvido, só consegue ser desprezado. Mas você precisa entender
que PECTUS EST QUOD DISERTOS FACIT, em latim, mais uma vez, “o coração é que
faz os eloquentes”. E isso você, realmente, não usa para tentar se comunicar,
simplesmente, você aperta a descarga do seu cérebro e as palavras se esvaem.
Agora, eu quero ouvir e ver você latir mais alto do que eu. Mostre-se como você
é, Luiz Almir? QUIS EST HIC VIR?
Sem mais.
Séfora Cavalcante
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